Para engendrar a máquina que operou R$ 80 milhões em caixa 2 só na eleição de 2014, Marcelo Odebrecht determinou um controle rigoroso dos repasses ilegais.
A revelação faz parte da série de depoimentos de executivos da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujos detalhes foram divulgados por Zero Hora em março. Os depoimentos foram prestados ao ministro Herman Benjamin no processo de cassação que o PSDB ajuizou no TSE contra a chapa Dilma-Temer. Na terça-feira, o TSE decidiu suspender o julgamento após conceder mais prazo para as defesas apresentarem suas alegações finais. Se condenados, Temer pode perder o mandato e Dilma ficar inelegível por oito anos.
As planilhas organizadas por Benedicto Junior, com nomes, datas, cifras e senhas, são consideradas uma robusta peça de acusação contra políticos na Lava-Jato. Antes do monitoramento, a fartura de executivos oferecendo vantagens aos partidos chegou a triplicar os custos da empresa.
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– O que acontecia? Um cidadão procurava Benedicto e pedia cinco. O mesmo cidadão procurava o Fernando Reis e pedia mais cinco. Procurava Marcelo e pedia mais cinco. Em vez de levar cinco, levava 15. Aí o Marcelo falou: "Vamos organizar" – contou Fernando Migliaccio, um dos principais mentores do esquema de doações ilegais da empresa.
Para facilitar a distribuição do dinheiro, a Odebrecht fixou teto de R$ 500 mil para cada pagamento. O motivo era de utilidade prática: essa era a quantia exata que cabia, em cédulas, dentro de uma mochila. Quando a exigência era maior, fracionava-se a entrega, como nas vezes em que Mônica Moura, mulher do então marqueteiro do PT, João Santana, cobrava Migliaccio.
– A gente tinha um conceito de segurança, desde o doleiro até o entregador final, de não fazer nada acima de R$ 500 mil. Só que, devido à pressão e à demanda, a gente dividia em tranches para não passar de 500. Então, era assim: "Mônica (pedia): "Preciso de R$ 1,5 milhão hoje". Ela recebia 500 de manhã, 500 à tarde e 500 à noite – explicou o executivo.
Por vezes, os pagamentos ocorriam em locais mais inusitados. Hilberto Mascarenhas, que também gerenciava o sistema de repasses, contou como combinava as entregas:
– Se fossem valores pequenos, encontravam em um bar. Você não tem ideia dos lugares mais absurdos, no cabaré...