Uma semana após a tempestade que castigou cinco bairros e o distrito industrial, São Francisco de Paula foca os esforços na reconstrução das casas destruídas. Após dias de informações desencontradas sobre a quantidade de imóveis atingidos e pessoas afetadas, o levantamento entregue pela prefeitura ao governador José Ivo Sartori e ao ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, oferece números mais próximos da dimensão da catástrofe: 65 residências destruídas, 265 danificadas e 170 com estragos menores. Diante do desafio de devolver a moradia a 970 pessoas desabrigadas ou desalojadas, a prefeitura quer ir além: reerguer bairros melhores e mais seguros.
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Boa parte das casas derrubadas pelo vendaval foram construídas sem o devido projeto de engenharia, prática comum em áreas mais pobres. Sem dinheiro, recorre-se à informalidade. O resultado são obras inconsistentes e menos resistentes às intempéries. O engenheiro e secretário de obras de São Francisco de Paula, Rui Paim, acredita que, com o devido acompanhamento e fiscalização, a reconstrução pode vir acompanhada de melhor qualidade de vida. Mas tudo depende dos recursos que o município irá receber.
_ Basta olhar para as edificações mais sólidas e comparar. Mesmo casas de madeira, se bem construídas, elas se mantém de pé. Podem destelhar, ter algum dano, mas não caem. Sem condições financeira, as pessoas recorrem ao irmão que é marceneiro, o amigo que é carpinteiro, aí infelizmente acontece isso. Se vier o recurso federal e tivermos um projeto para uma reconstrução boa e rápida, a expectativa é de que os bairros ganhem em qualidade _ afirma o secretário.
Para agilizar e otimizar os custos das obras, a prefeitura pode ter parceria de uma universidade da região para a elaboração de um projeto de engenharia. Uma reunião na segunda-feira deve encaminhar o acordo. Enquanto espera por verbas federais e estaduais, aos poucos o município destina parte do material já arrecadado para reformas menores. O critério é socioeconômico e a liberação feita pela Secretaria de Assistência Social. O secretário de obras ressalta que trabalho tão intenso quanto refazer as casas será organizar material, mão-de-obra e condições de trabalho.
– É uma situação complexa. A gente vai encaminhar para diversas empresas a lista completa do material necessário, mas dependemos de ter a mão de obra disponível. Não adianta ter os trabalhadores e não ter luvas e capacetes para eles trabalharem. Casa essas coisas é complicado para uma prefeitura com um orçamento pequeno. Vai depender da ajuda que iremos receber – avalia Paim.
O prejuízo total estimado é de R$ 33 milhões e corresponde a quase dois terços do orçamento anual de São Francisco (R$ 48 milhões). Nas casas, as perdas somam R$ 8 milhões, calculados com base em uma tabela do estado para compra de material e contratação de mão-de-obra. Após ter praticamente sanado a necessidade de doações de roupas e alimentos com a ajuda da comunidade, a Defesa Civil apela para a doação de materiais de construção.
Vida improvisada enquanto a ajuda não chega
Nos bairros e loteamentos de São Chico onde a tempestade prejudicou centenas de moradias, a maioria das famílias que aguardam pelo poder público para retornar ao lar se abriga na casa de familiares. No loteamento Santa Isabel, onde o estrago foi mais intenso, as irmãs Marilisa, 23, Andrelisa, 34, e Eloisa Cardoso, 30, moravam em terrenos próximo à escola, na mesma vizinhança. Devido aos estragos, tiveram de recorrer ao teto da mãe Marlei Cardoso, 51, que mora na mesma rua, mas cuja casa teve apenas algumas telhas quebradas.
– Minha casa foi para a frente e para a trás três vezes, parecia que estávamos num liquidificador. Foi horrível. Quando vi que casas inteiras estavam no meio da rua, só pensei em procurar minha mãe. Graças a Deus, com ela estava tudo bem – conta Marilisa.
Estudante de Turismo da Faccat, Marilisa espera se formar no fim do ano. Recebeu da direção da faculdade que terá isenção de algumas mensalidades, para que não desiste nste momento difícil. Devido à chuva, os certificados de cursos de extensão que fez durante a faculdade são alguns dos objetos pessoais que, mesmo que sua casa seja refeita, não serão recuperados. Mas Marilisa prefere valorizar o fato de ninguém da família ter se ferido com gravidade.
– Tudo tem um valor sentimental coisas que tu ganha de presente, ou conquistas com o teu suor. Mas olhando para o estado em que ficaram as casas, o mais importante é nossa família ainda estar junta para recomeçar – diz a jovem.