Para passageiros que estavam num ônibus da Caxiense no trecho Porto Alegre-Caxias do Sul na noite de quinta-feira se tratou de uma tentativa de assalto. Para a empresa, foi um ato de vandalismo que poderia ter resultado em graves consequências. Mas o ataque que arrebentou o vidro da porta e danificou o para-brisa do veículo reforça a sensação de que está perigoso transitar à noite pela BR-448, a Rodovia do Parque, entre Sapucaia do Sul e Porto Alegre. Na mesma noite, dois ônibus da Penha que seguiam para Caxias foram atacados no mesmo trecho. Somente a Caxiense registrou outras investidas semelhantes neste ano, sempre envolvendo passageiros da Serra que se deslocam ou voltam de Porto Alegre. Pessoas não identificadas jogam pedras e outros objetos contra a carroceria e janelas. Felizmente, ninguém ficou ferido até o momento.
Leia mais:
Vai viajar no feriado de Carnaval? Confira as condições das estradas da Serra
Com leitos vazios, hospitais da Serra passam por crise
Com falta de recursos, hospitais da Serra reduzem atendimento
A estudante de Química Brenda da Rolt Nervis, 19, era uma das passageiras do ônibus atacado na quinta-feira. A jovem postou um desabafo no Facebook onde narrou os minutos apavorantes. Ela e outros 34 passageiros saíram da Capital às 19h10min para seguir a Caxias do Sul. Cerca de 10 minutos depois de o coletivo ter passado pela Arena do Grêmio, ela ouviu um estouro.
– Já estava escuro. Eu estava mais para o fundo e via um filme no tablet quando ouvi o barulho. Pensei que era um pneu furado e falei com a mulher que estava ao meu lado, já bastante assustada. Dava para ver pelo vidro que havia um carro preto colado no ônibus – conta Brenda.
Segundo a jovem, os ocupantes do carro jogaram pedras e um objeto que parecia um machado contra o para-brisa e a porta. O motorista não parou e seguiu viagem. O carro teria seguido o ônibus por alguns metros e não foi mais visto.
– Não sabíamos exatamente o que estava acontecendo na hora, mas deu para perceber que era um assalto. Havia gente chorando, pessoas apavoradas no ônibus – relembra a jovem.
Cerca de 10 minutos depois, o motorista parou o veículo na estrada para conferir os estragos e avaliar se poderia prosseguir até Caxias, que gerou ainda mais pânico entre os passageiros.
– Mesmo atordoado o motorista optou por continuar dirigindo. Ele foi corajoso e nos trouxe com segurança. Me impressiona a audácia desses bandidos ao atacar um ônibus em movimento, com um machado. Também lamento que ao chegar na rodoviária não havia ninguém da empresa para nos receber – questiona Brenda.
Pedido de providências
O gerente operacional da Caxiense, Milton Félix dos Santos, afirma que os relatos de ataques a ônibus e caminhões têm sido frequentes na Rodovia do Parque. A empresa registrou quatro ocorrências neste mês, apenas com danos. Ele não acredita em ações envolvendo assaltantes.
– Poderia até ser uma tentativa de roubo que ocorreu ontem (quinta-feira), mas ninguém apareceu depois para assaltar. Por isso, acredito que é vandalismo, só não sabemos a intenção – pondera Santos.
O gerente está contatando outras empesas para dimensionar o tamanho da insegurança. Os funcionários do escritório da Penha na rodoviária de Caxias do Sul relataram à reportagem que dois ônibus que saíram em comboio por volta das 19h de quinta-feira de Porto Alegre foram alvejados. Um dos veículos teve o para-brisa esquerdo destruído por pedras.
– Vamos reunir esses dados e encaminhar para as autoridades – adiante o gerente da Caxiense.
Sobre o atendimento prestado aos passageiros que presenciaram o ataque na quinta-feira, Santos garante que o motorista ligou para a empresa e recebeu orientações.
– O motorista parou na estrada porque dentro do coletivo havia um policial. O motorista era o representante da Caxiense. Se houvesse alguém machucado, se alguém precisasse de ajuda, esse suporte haveria. Mas se avaliou que era o caso de continuar a viagem. Por outro lado, as pessoas poderiam ter procurado a unidade da empresa na rodoviária – justifica Santos.
A Caxiense não pretende alterar a rota no trecho Caxias-Porto Alegre. A Rodovia do Parque é frequentemente utilizada por caminhoneiros e transportadoras porque o caminho tem menos congestionamento em relação à BR-116. Boa parte da estrada é margeado por lotes urbanizados, lavouras de arroz e áreas de proteção ambiental.A reportagem não conseguiu contatar a 1ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, responsável pela Rodovia do Parque.