Com seis horas de julgamento e 10 testemunhas de acusação, o júri popular do ex-policial militar Luis Paulo Mota Brentano, que matou a tiros o surfista Ricardo dos Santos, o Ricardinho, passou a se focar na tarde desta quinta-feira na existência ou não de um facão no local do crime. A justificativa da defesa do acusado é que a vítima estava com a arma na mão e por conta disso é que o ex-soldado atirou durante uma discussão, sob o argumento de legítima defesa.
A primeira pessoa a ser enfaticamente questionada sobre o material foi o sargento da Polícia Militar (PM) que estava de serviço na hora do assassinato. Ele relatou que ouviu de colegas dentro da viatura que um casal de hippies havia visto o facão na cena do crime. Com perguntas frequentes da juíza, promotor e advogados, o sargento chegou a gaguejar por vários momentos e dizer que não comunicou o delegado responsável pelo caso porque achava que o relato ouvido era informal.
Depois do PM, prestou depoimento Marcelo Arruda, delegado responsável pela investigação na Polícia Civil. Sobre a existência do facão, insistentemente questionado novamente, Arruda disse que os policiais investigaram o fato depois de ouvir o relato de um tenente militar. No entanto, não se chegou à conclusão da existência da arma no crime. Os hippies citados pela denúncia chegaram a ser procurados, segundo o delegado, mas nada se encontrou.
Caso a tese de legítima defesa dos advogados do réu se configure, a pena pode ser reduzida e até mesmo dar a absolvição ao réu. Para Arruda, entretanto, mesmo que o facão estivesse com Ricardinho, a justificativa não iria se configurar porque a reação do acusado foi desproporcional.
O promotor Alexandre Carrinho Muniz chegou a lembrar que durante a reconstituição um facão foi encontrado ao lado de uma árvore. Como resposta, o delegado disse que tinha ido ao local dias antes e não havia visto a arma. Além disso, completou que o material foi levado por um perito para ajudar na reprodução da alegação do acusado.
Relembre o caso
O crime ocorreu no dia 19 de janeiro de 2015. Segundo a denúncia do Ministério Público (MP), o então policial militar Luis Paulo Mota Brentano estava na Guarda do Embaú, em Palhoça, passando férias com o irmão de 17 anos. No dia anterior, afirma o MP, os dois teriam ingerido bebidas alcoólicas de maneira excessiva até a manhã seguinte.
Por volta de 8h, Mota teria dirigido o próprio carro embriagado até a entrada de uma residência, exatamente onde seria feita por Ricardinho uma obra de encanamento. Depois disso, relata a denúncia, o surfista e o avô, Nicolau dos Santos, teriam pedido ao policial que retirasse o veículo do local, mas Mota se negou e chegou a afrontá-los.
Do interior do veículo, explica a denúncia feita pelo Ministério Público de Santa Catarina, o policial teria atirado três vezes contra Ricardinho, sendo que duas balas atingiram o surfista. Leandro Nunes, advogado de defesa do acusado, afirma que Mota reagiu em legítima defesa, "diante de ataque de Ricardo dos Santos".
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