Mais do que diminuir as comprar no varejo, a crise econômica nacional, as demissões e o parcelamento nos vencimentos do funcionalismo delineiam o caminho do consumidor no comércio deste Natal. Lojas de classe média lamentam a diminuição do movimento, ambulantes vibram e a Voluntários da Pátria, com suas vendas mais acessíveis, festeja a chegada do 13º salário.
Talvez o maior termômetro seja a ambulante Raquel, que se dedica a vender papéis de presentes na Esquina Democrática (Andradas com Borges de Medeiros). Ao lado de um pregador pentecostal que grita suas prédicas, Raquel atende a um farto público que procura pela embalagem de presentes usados, uma boa alternativa nestes tempos bicudos.
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Entre a Borges e a General Câmara, há mais de 80 ambulantes, vendendo desde brinquedos até camisetas de futebol, em especial dos clubes que estão em alta e, claro, da Chapecoense. As expressões entre os "camelôs" é de tranquilidade.
- Olha, para mim não tem crise. Estou bem feliz com as vendas. Claro que, na crise, as pessoas recorrem mais a nós. O negócio está bom e já faz tempo. As pessoas se anteciparam, estão comprando desde outubro - diz Alexandre, que, assim como Raquel, não diz o nome e ainda elogia a fiscalização municipal, que, segundo ele, está "pegando leve" com o comércio informal.
- Eles estão assim ou porque está mudando o prefeito depois das eleições, ou porque sabem que muita gente só pode comprar de nós neste momento - diz ele.
Nas lojas da Andradas, como a Marisa, o comentário geral dos vendedores é de que e o movimento caiu neste ano, e o diagnóstico é invariável: o parcelamento dos salários para o funcionalismo estadual afugentou muita gente, somando-se à situação que já é de penúria no momento de crise nacional.
Na Multisom, ocorre uma situação curiosa: assessórios têm sido vendidos mais do que os instrumentos musicais, tão requisitados em outras épocas.
- O motivo, certamente, é que as pessoas preferem dar até palhetas e cabos, que vão de R$ 4 a R$ 30, do que aquilo que davam antes. São os presentes da amigo secreto, por exemplo. Tenho nove anos aqui e nunca tinha visto momento tão delicado. Nos anos anteriores, vendíamos guitarras, baixos, violões e até teclados. Os violões custam a partir de R$ 179. Este teclado aqui, que já vendeu bem, está por R$ 549. Mas as pessoas estão sem recursos - diz o vendedor Jorge Macchi, falando e apontando para os instrumentos.
Nem bichos e brinquedos se salvam
Silvete Martins, proprietária da loja Bicharada, diz que o movimento está "dentro do esperado". Só que o esperado é de dificuldades neste final de ano. Como a loja da Andradas tem apenas duas semanas, ela está satisfeita.
- As crianças gostam de bichinhos, claro. Mas os tempos são difíceis. Estamos vendendo, em todas as lojas da nossa rede, a metade do que costumávamos vender no ano passado, por exemplo. O que mais estamos vendendo é acessórios. As pessoas tratam os bichos como filhos. Compram acessórios para eles e põem debaixo das árvores de Natal - diz ela.
Na loja Brinkare, ao lado, também o movimento diminuiu, tendo recuperado um pouco do vigor nesta semana, com o ingresso do 13º. Mais adiante, no Mercado Público, o movimento era pequeno. Nos dias anteriores, foi maior, porque as pessoas buscavam mercadorias para a ceia natalina.
Passando a Borges e cruzando o Mercado Público, aparecem os comerciantes mais satisfeitos com o momento de dificuldades: os da Voluntários.
- Claro que está menor o movimento, porque as pessoas estão sem dinheiro, mas, desde a segunda-feira, com o 13º entrando nas contas, começou a melhorar. Hoje, está até bom. Houve dias em que estivemos desesperados pela falta de movimento - diz Michele Fragoso, gerente da loja Segredos da Moda.