O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero confirmou, neste domingo, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que fez gravações telefônicas com o intuito de "se proteger" de eventuais represálias, antes de pedir demissão da Pasta. Um deles teria sido o presidente Michel Temer. No entanto, Calero afirmou que a conversa foi "protocolar".
– O que fiz, até por sugestão de amigos nos momentos finais, para me proteger, foram gravações telefônicas de pessoas que me ligavam. Entre elas existe uma com o presidente. Burocrática. Foi uma conversa protocolar, sobre minha demissão. Não induzi o presidente a criar provas contra si – disse.
Calero desconversou quando questionado, na entrevista à TV Globo, sobre eventuais gravações que teria feito do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do ex-ministro da Secretaria Geral de Governo Geddel Vieira Lima.
– Não posso responder a essa pergunta – rebateu, ao ser perguntado sobre as supostas gravações envolvendo Padilha e Geddel. – Há um entendimento de que isso poderia atrapalhar as investigações. Posso falar das gravações, mas não os interlocutores – explicou.
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Nesta semana, após pedir demissão, Calero falou à Polícia Federal sobre o caso. No depoimento, relata conversas que teve com Temer, Padilha e Geddel sobre o embargo do Iphan à construção de um prédio onde Geddel comprou um apartamento. A situação fez Geddel deixar o governo.
No depoimento, o ex-ministro da Cultura afirmou que foi pressionado pelo presidente a encontrar uma "saída" para a obra de interesse do ministro da Secretaria de Governo. Na entrevista deste domingo, Calero reafirmou as acusações feitas à PF.
O ex-ministro disse ao Fantástico que ele e o presidente tiveram três conversas sobre o embargo à obra do empreendimento La Vue, em Salvador.
– Na primeira ocasião, me senti respaldado. (...) O curioso é que na segunda vez, um dia depois, o presidente me determina que criasse uma manobra, um artifício, uma chicana, como se diz no termo jurídico, para encaminhar o caso – disse o ex-ministro da Cultura.
Temer teria citado uma certa "estranheza" sobre a decisão do Instituto do Patromônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), relatou Calero. Segundo o ex-ministro, Temer disse que a decisão havia lhe causado "dificuldades operacionais" e que Geddel teria ficado muito irritado.
O ex-ministro da Cultura lamentou que tenha se criado uma "boataria" de que ele teria pedido uma reunião com Temer para flagrar o ex-presidente em seu gabinete.
– Começaram com essa boataria de que eu teria pedido um encontro (com Temer) para gravar essa audiência. Isso é um absurdo. Só serve para alimentar a campanha difamatória e desviar o foco das atenções. Eu jamais entraria no gabinete presidencial com uma ferramenta sorrateira dessas – defendeu-se. – Vi algumas declarações que eu era desleal. O servidor tem de ser leal, mas não cúmplice – acrescentou.