Ainda incrédula com o trágico desfecho do que seria apenas um passeio com amigos, a família de Roger Thomé Trindade, 15 anos, aguarda novos laudos médicos para descobrir a causa da morte do menino. Natural de Novo Hamburgo, Roger, que morava com os pais nos Estados Unidos desde o início do ano, foi abordado e agredido na noite do último sábado por uma dupla de jovens em um parque de Winter Park, na Flórida, enquanto passeava com outros brasileiros. A polícia o encontrou já desacordado, e a morte foi confirmada no domingo.
A irmã do jovem, Laura Thomé Koch, de 24 anos, conversou com Zero Hora e contou como estão as investigações, o que a polícia sabe até o momento, além das lembranças que preserva do irmão. Ela vive em Novo Hamburgo e foi para os EUA quando soube do ocorrido. Confira os principais trechos:
Existem muitas informações desencontradas sobre o que ocorreu naquela noite. O que vocês já sabem?
O que aconteceu, segundo o menino e as meninas que estavam junto com meu irmão, foi que estavam no chafariz de Winter Park, sentados, quando dois meninos se aproximaram e esborrifaram um spray com cheiro de esgoto no meu irmão. O Roger não reagiu, ficou apenas olhando sem entender. Logo, um deles esborrifou novamente o spray e ambos saíram correndo. Meu irmão, segundo o que o amigo falou, correu atrás dos meninos. Esse amigo também correu atrás, e eles acabaram sendo levados a um lugar escuro do parque. Foi quando surgiram mais três meninos, que começaram a agredir os dois. O amigo do meu irmão não sabe dizer o que aconteceu exatamente, ele só conta que viu o Roger caído no chão, já desacordado. Eles não conheciam os meninos e não tinham ligação nenhuma com eles.
A causa da morte já foi esclarecida?
Os médicos disseram que meu irmão tinha uma lesão na cabeça, que ele pode ter batido a cabeça quando caiu no chão. Ou ainda que, depois de caído, chutaram a cabeça dele e uma veia no cérebro dele acabou rompendo. A autópsia foi inconclusiva, mas os médicos vão investigar todo o cérebro dele agora para terem certeza. No início, eles estavam achando que poderia ser aneurisma, mas como ontem encontraram uma lesão na coluna cervical, que indica que ele bateu a cabeça de alguma forma, acham que pode ter sido um derrame por conta do trauma.
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Depois da agressão, ele ainda foi para o hospital com vida?
Sim, mas, logo quando ele chegou, os médicos já viram que o cérebro não respondia mais a estímulo nenhum, deixaram ele ligado para ver se poderia responder, o que não aconteceu.
Você estava no Brasil, certo? Como recebeu essa notícia?
Sim, eu estava na casa de amigos com meu namorado quando minha mãe ligou chorando e falando "teu irmão apanhou, levaram ele para o hospital". Na hora, fiquei muito nervosa porque sei o quão frágil meu irmão era. E eu lá sem poder fazer nada. Então fui para casa, arrumei uma mala e corri para o aeroporto.
O que mais os amigos do seu irmão contam daquela noite? Eles estavam se encontrando ali para fazer o quê?
Eles iam comer hambúrguer e depois iam para casa, aí resolveram sentar no chafariz para conversar um pouco.
A polícia afirmou que já identificou os suspeitos. Você sabe alguma coisa sobre eles? Sabe se algo parecido já tinha ocorrido na região?
A polícia já identificou os agressores, mas acho que aqui funciona diferente, eles não prendem e ficam aguardando julgamento. O que sabemos é que são crianças. Os agressores tinham 13, 14 anos. A polícia disse que não pode falar, pois são menores de 16 anos. Não sei se já havia acontecido algo assim, mas vi um relato de uma mãe daqui dizendo que uns meninos já haviam batido em uma outra criança no mesmo parque.
Seu irmão estava morando nos Estados Unidos desde o início do ano com seus pais. Como ele estava se adaptando à nova vida? Como era a rotina dele?
Sim, ele estava muito feliz aqui, saía para andar de bicicleta, brincar com os amigos, ele estava fazendo parte do time de corrida e todos os dias saía para correr. O Roger nunca tinha sido tão feliz como nos últimos meses, pois, quando a gente morava no Brasil, ele chegava da escola e passava o dia todo em casa. Eu vim visitar meus pais no mês passado e meu irmão estava todo estudioso. Na escola, logo que chegou, prestou serviço comunitário e foi atrás do nível mais alto da escola, chamado IB aqui, com isso ele poderia entrar na universidade que quisesse depois. A gente nem tinha noção de quanta gente, de quantos amigos ele fez em apenas 10 meses, ele era muito querido por todos aqui, um menino de ouro.
E como você descreveria seu irmão, Laura?
Um menino iluminado. Estávamos comentando que jamais vimos meu irmão triste ou alimentando qualquer sentimento de raiva. O Roger estava sempre de bom humor, fazendo piadinhas, colocando as pessoas para cima. Quando vim visitar meus pais, no mês passado, ele passou o tempo todo grudado em mim, literalmente. Fomos a alguns parques e em todos os brinquedos em que íamos ele pegava na minha mão e dizia "não precisar ter medo, mana, eu tô aqui contigo". Ele era demais, dói muito saber que nunca mais poderemos sentir o toque dele. Teremos que nos contentar com as lembranças boas que temos dele.