Durante um dia, algumas das crianças atendidas pela Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital Geral (HG), em Caxias do Sul, esqueceram agulhas e comprimidos, e, com sorriso no rosto, viraram modelos. Pintaram o rosto, vestiram fantasias e posaram para as lentes da fotógrafa Thais Bachi em clima de descontração. Os cliques foram produzidos para ilustrarem um calendário que será lançado nesta segunda-feira, às 16h, com o objetivo de angariar fundos para melhorias na área de oncologia do hospital. Atualmente, 48 crianças fazem tratamento na Unacon – 15 delas toparam ser fotografadas.
– São 48 em tratamento, mas mais de 200 em acompanhamento, em consultas mensais, trimestrais. Infelizmente, o número de crianças com câncer vem crescendo a cada dia e é preciso, cada vez mais, dar atenção para o assunto. Os casos de leucemia são os mais comuns – explica a oncologista pediátrica do HG, Angela Rech Cagol.
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Levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que ocorrerão 12,6 mil novos casos de câncer em crianças e adolescentes no Brasil até o final do ano. A patologia também já é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de um a 19 anos no país. O diagnóstico em estágio inicial é fundamental, segundo Angela, para garantir maiores chances de cura. Por isso, iniciativas como a comercialização do calendário podem ajudar a melhorar os serviços oferecidos aos pequenos que sofrem com câncer. As fotos também ajudam na melhoria da autoestima das crianças.
– Ela se achou linda quando tirou fotos. Esqueceu que o cabelinho está mais curtinho, não como ela queria, e fica toda exibida. Por horas, sorriu e se sentiu feliz – conta Rejane Cosman, 31 anos, mãe da Yasmin, cinco, uma das estrelas do material que começa a ser vendido amanhã.
Abaixo, confira a história de duas das 15 protagonistas do calendário do HG.
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Tratamento na 'semana 82'
As idas de Yasmin Cosman à ala oncológica do Hospital Geral começaram em fevereiro do ano passado, depois que a mãe, Rejane, 31 anos, percebeu manchas roxas no corpo da menina, na época com quatro anos. As marcas demoravam para sair e começaram a chamar a atenção porque a pequena dizia que não sentia dores, nem apresentava outros sintomas. Exames foram feitos dias depois, em fevereiro do ano passado, e diagnosticaram leucemia. Desde então, ela é uma das crianças em tratamento na Unacon e uma das estrelas do calendário de 2017.
– Não sabia nada da doença até que os médicos me passaram o resultado dos exames. Me assustei no início porque ela era muito pequena. Ela já passou por muita coisa, mas sempre foi forte – diz a mãe, emocionada.
Assim que foi diagnosticada com câncer, Yasmin começou a fazer quimioterapia diariamente no HG. No início, as sessões duravam seis horas e ela ficava internada no hospital. Com o tempo, e com a doença mostrando que estava regredindo, as sessões passaram a ser mensais. Hoje, a menina faz o tratamento quimioterápico via oral. O comprimido é tomado uma vez por dia, e requer atenção da mãe, que precisa usar luvas para manuseá-lo.
Sempre ao lado da filha, Rejane afirma que a pequena nunca se mostrou abatida. Ficava enjoada após as sessões no hospital, mas não deixava de brincar ou comer. Mas um momento, há meses, deixou a mãe muito emocionada:
– O cabelo dela começou a cair. Um dia, passando a escova, um tufo grande se soltou e ela me disse: "vamos cortar tudo, mãe?". Cortamos e agora o cabelinho está crescendo. Deveria ser o contrário, mas quem me dá força é ela.
Rejane garante que não cria expectativas com o futuro, mas conta as semanas para o tratamento de Yasmin terminar.
– Os médicos disseram que serão 106 semanas de tratamento, se tudo continuar dando certo. Estamos na 82 e perto de comemorar que a vida vai continuar sendo linda, né? – diz, com os olhos cheios de lágrimas.
Cabelo de princesa é sonho
As manchas roxas pelo corpo também foram os indicativos para a família de Ketlyn Escobar, quatro, entrar em alerta. A menina, assim como Yasmin, não apresentou nenhum outro sintoma que apontasse um quadro de leucemia, e teve a sorte de ser diagnosticada rapidamente. A doença foi descoberta em março deste ano e o tratamento logo iniciou no HG. Ketlyn usa um cateter, tubo implantado embaixo da pele para facilitar o tratamento quimioterápico venoso, e faz sessões semanalmente. A menina mora com a família em São Sebastião do Caí e a mãe, Daniela, 23, conta que a pequena entende que precisa se tratar. Por isso, não reclama nem do deslocamento até Caxias, que dura pouco mais de uma hora.
– Ela fica enjoada logo depois que faz a quimio, mas passa. Explicamos, de forma rápida, o que ela tem e como vamos ajudá-la. Ela se esforça muito – acredita a mãe.
Ketlyn perdeu parte do cabelo loirinho no início do tratamento, e a perda a deixou tristinha. A menina sonha em ter "um cabelo comprido, de princesa", mas, por enquanto, quer ocupar seu tempo brincando com os amigos de casinha. Daniela, que também é mãe de Gustavo, de um ano e meio, acompanha a pequena em todas as sessões em Caxias e faz questão de deixá-la bonita como uma boneca.
– Ela nunca se queixa. Nas quimios, fica quietinha sentadinha recebendo o medicamento. Nenhuma criança deveria passar por isso, é um sofrimento sem tamanho – lamenta a mãe.
Comercialização
Os calendários serão vendidos a partir de amanhã no DCE, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), a R$ 15. Empresas e lojas que também quiserem ser pontos de venda devem entrar em contato pelo telefone (54) 3218.7396.