Ex-presidente do Badesul, Marcelo Lopes prestou depoimento no início da noite desta terça-feira à sindicância coordenada pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE) que apura eventuais irregularidades na concessão de financiamentos de risco durante a sua gestão. Somente em três operações, concretizadas com a flexibilização de garantias bancárias, a agência de fomento, controlada pelo governo estadual, sofreu calote de R$ 157 milhões.
Lopes chegou ao local do depoimento, na sede da PGE, em torno das 16h15min, acompanhado do seu advogado. Minutos depois, foi deslocado para uma sala de espera para evitar que tivesse contato com outros funcionários e ex-dirigentes do banco que aguardavam para apresentar esclarecimentos.
O depoimento teria se estendido das 18h20min até às 19h40min. Na saída, ele informou que passou a maior parte do tempo em espera.
– Tratei de reiterar toda a solidez técnica da tomada de decisões do Badesul durenta a gestão. Tem uma equipe técnica de profissionais que fez o trabalho junto conosco. Tem rito e regras. Não é o folclore que se falou. É um negócio sério, com profissionais e consistência técnica – afirmou Lopes, sem esclarecer o que exatamente foi perguntado a ele pelos quatro integrantes da sindicância.
Ele explicou os trâmites de um processo de financiamento e negou que empresas tenham sido beneficiadas durante o governo de Tarso Genro com a flexibilização de critérios para a obtenção de recursos. Também nesta terça-feira, prestaram depoimento o vice-presidente do Badesul, Pery Francisco Sperotto, e o presidente do Conselho Fiscal, Luis Alberto Bairros. Uma das falas mais longas do dia foi a de Pery, que ocupa o cargo de vice-presidente pelo segundo governo consecutivo. Ele não quis se manifestar ao deixar o prédio da PGE. Lopes destacou o fato de outros dirigentes terem sido chamados a fazer esclarecimentos como indicativo de que não tinha poderes para guiar o banco sozinho.
– As decisões são colegiadas, os votos são iguais, não existe decisão do presidente. É decisão colegiada, seja no comitê de crédito ou na diretoria – disse o ex-presidente do Badesul.
A sindicância foi instalada por determinação do Palácio Piratini depois de reportagem de Zero Hora revelar que o banco diminuiu o rigor das análises de concessão de crédito e da exigência de garantias bancárias nas operações com a Wind Power Energia, Iesa Óleo e Gás e D'Itália Móveis. As três empresas entraram em inadimplência, estão em recuperação judicial e, hoje, devem R$ 157 milhões à agência de fomento, que ficou com as dívidas. Ao final da investigação, poderão ser propostas ações judiciais de ressarcimento dos cofres públicos, além de demissões de servidores eventualmente envolvidos com irregularidades.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Banco Central abriram inspeções extraordinárias para verificar a legalidade dos contratos firmados com Wind Power e Iesa.
Na Assembleia, o deputado estadual Enio Bacci (PDT) recolhe assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Badesul. O pedetista precisa de 19 apoios e, até agora, alcançou 15.