Em 2013 conheci Henrique Fitarelli. Minha curiosidade girava em torno da tal vila italiana que ele estava construindo no interior de Garibaldi e que serviu de locação para séries e novelas da Globo. Em 2014, gravamos um curta-metragem, para o Histórias Curtas da RBS TV, sobre o seu projeto de montar um museu etnográfico. Em 2015, a GloboNews propôs transformarmos o curta em um longa. Por isso, este ano, fomos para a Itália.
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Fitarelli é um amante do passado. Colecionador, ao longo da vida estruturou um acervo com mais de 8 mil peças que ajudam a contar a nossa história. Uma história que, em princípio, nos orgulha e nos emociona. Me identifico com ele. Ambos nos orgulhamos de nossas raízes, entendemos a importância da preservação histórica e trabalhamos para isso. Ele, com suas casas, móveis, objetos. Eu, com meus filmes.
A premissa desse documentário é aproximar o norte da Itália e o sul do Brasil e refletir sobre por que nós, mesmo orgulhosos dessa ligação histórica, falhamos em preservar a memória dos imigrantes. Fitarelli, no filme, é uma espécie de espelho que reflete sua terra, Garibaldi, e a sua relação com a Itália. Por isso, viajamos por cidades em busca da memória dos nossos nonnos. É surpreendente em todos aspectos, seja nas identificações inevitáveis, seja na percepção sobre as diferenças. É como quando olhamos para nossos pais: identificamos traços, percebemos semelhanças, mas somos pessoas diferentes.
Na Itália, as casas seguem de pé, os museus são aparelhos importantes também nas pequenas cidades, os mais velhos são respeitados. Fotografias, objetos, documentos, tudo é registrado, arquivado, preservado, no sentido de permitir o estudo sobre o passado. Ironicamente, a exemplo do Brasil, também os italianos reclamam da falta de financiamento para a cultura, do progresso equivocado que avança sobre o passado e, principalmente, do desinteresse dos mais jovens sobre a sua própria história. Muitas vezes, parece que falamos de um mesmo país, noutras, são realidades completamente opostas. São incontáveis as similitudes e os contrastes que nos colocam frente a um espelho de reflexos inexatos mas, mesmo assim, definitivos para nossa percepção histórica e humana.
Talvez nem Fitarelli, nem nós, saibamos ao certo o que significam esses dois projetos; a Villa e este documentário. Eu mesmo já realizei tantas produções sobre essa temática e não tenho ideia de como o futuro receberá meus filmes. Mas uma certeza sei que temos, tanto Fitarelli quanto eu. É preciso dar limites ao progresso selvagem que aniquila nosso passado, valorizar e refletir as nossas raízes e buscar um olhar crítico sobre nossa memória histórica para construirmos, só assim, um futuro consciente a respeito do verdadeiro valor dessa nossa história. Para isso, todo esforço tem sentido. Torço para que a Villa Fitarelli e o nosso documentário possam também contribuir um pouco para com esse processo. E que esse processo ocorra.