A chance de Ana Júlia Donin, nove anos, não depender mais de transfusões de sangue a cada 15 dias e de ter uma vida melhor nasceu há 16 dias pesando 3.390 quilos e medindo 51 centímetros. Ana Beatriz foi gerada por fertilização in vitro para salvar a irmã, que é portadora de Beta Talassemia Major, doença rara que provoca anemia grave. Uma das formas de cura é a doação de medula, mas nenhum dos parentes de Ana Júlia é compatível. A família, porém, reencontrou a esperança no bebê.
A gestação de Ana Beatriz foge do convencional. Sem condições financeiras para bancar a fertilização numa clínica, que custa em torno de R$ 35 mil, Tassiane e Jaime, 47, de Vista Alegre do Prata, nos Campos de Cima da Serra, recorreram à Justiça em julho do ano passado. Numa decisão inédita, a Justiça obrigou o Estado e a prefeitura a custearem o procedimento com embriões selecionados para que não houvesse o risco do novo bebê nascer com a mesma doença de Ana Júlia, que está na fila de espera por doador de medula há três anos.
Leia mais
Oitava morte por gripe A é confirmada em Caxias do Sul
Monte Belo do Sul registra morte por gripe A
A caçula nasceu em Porto Alegre, de cesárea, para que as células-tronco pudessem ser coletadas do cordão umbilical. A partir de agora, de acordo com a mãe, os médicos vão verificar se a quantidade coletada será suficiente para o transplante ou se será preciso realizar a coleta diretamente na medula de Ana Beatriz. Se essa for a opção, a menina precisa ganhar ao menos 12 quilos.
– Agora com a Ana Beatriz em casa, vemos uma vida ainda mais bonita para a Ana Júlia. Não tínhamos ideia de ter outro filho, mas agora temos ainda mais certeza de que fizemos a coisa certa. Poderemos livrá-la das transfusões e fazer com que ela não fique mais fraquinha – acredita Tassiane.
No final do mês, os pais devem se encontrar com os especialistas que realizarão o tratamento. Enquanto isso, a família comemora a boa saúde da pequena, que, segundo o pai, só chora quando está com fome.
– Desde o início, nós contamos toda a história para a Ana Júlia. Ela sabe que a irmãzinha veio para alegrar nossa vida e também para salvá-la. Elas terão, para sempre, uma ligação ainda mais especial – se emociona Donin.
A equipe do médico Nilo Frantz, de Porto Alegre, foi quem realizou todo o processo da fertilização e, agora com o nascimento do bebê, o profissional diz que está muito feliz com o resultado. Ele explica que o tratamento ocorreu da forma esperada desde o início:
– Dos nove embriões fertilizados, um era exatamente o que Ana Júlia precisava. Com a técnica utilizada, conseguimos ver no momento da fertilização se algum seria compatível. Então, a família não precisou ficar na expectativa para saber se daria tudo certo somente com a criança nos braços. Nossa missão terminou criando um doador para a menina Ana Júlia, que ficará bem.
História gerou outros casos semelhantes
A tia de Ana Júlia, a advogada Valéria Meneghini, foi quem teve a ideia de auxiliar Tassiane e Jaime na busca pelo tratamento da menina na Justiça. Há anos, ela procurou histórias semelhantes como inspiração e hoje se diz realizada por ajudar mais pessoas. Famílias que ficaram sabendo do caso do casal de Vista Alegre do Prata, até mesmo de outros Estados, a procuraram em busca de assessoria jurídica para também conseguir salvar outras crianças.
– Hoje tenho mais quatro processos em andamento, exatamente iguais ao da Ana Júlia e da Ana Beatriz. A história das meninas abriu as portas para que mais crianças possam ser salvas – acredita.
Sensibilizada com o sucesso do caso envolvendo a família, Valéria faz atendimentos envolvendo problemas de saúde de forma gratuita.
– Tento fazer um pouquinho para ajudar as pessoas em momentos frágeis.