A cada pá de terra retirada para drenar o terreno da Associação de Mães Rita Yasmin, no Bairro Restinga, em Porto Alegre, a diarista Nídia Mattos, 23 anos, da Vila Chácara do Banco, reforça a certeza de que fez a escolha certa ao se inscrever na oficina Cimento e Batom, que está capacitando mulheres do bairro para trabalhar em funções da construção civil – área onde as gaúchas representam menos de 10% dos trabalhadores no Estado, conforme levantamento do Ministério do Trabalho.
Esta é a primeira vez que a iniciativa da ong Mulher em Construção oferece os cursos no bairro. As atividades gratuitas são oferecidas com a parceria do Fundo Fale Sem Medo da Avon e o apoio da OSC Themis. Até o final deste mês, Nídia e outras 39 mulheres do bairro aprenderão técnicas de cerâmica, alvenaria, pintura, hidráulica e elétrica na Associação de Mães Rita Yasmin e na Associação de Moradores da Restinga. Os dois locais, que precisam de pequenos reparos, servirão de escola prática para as alunas. Entusiasmada com a própria força física que não imaginava ter, Nídia já faz planos para depois da conclusão do curso.
– Estou construindo três peças de alvenaria para morar com os meus dois filhos. Poderei trabalhar na minha própria obra e não precisarei pagar servente de pedreiro – comemora Nídia, que pretende se aperfeiçoar na área da construção civil.
Segundo a arquiteta e coordenadora de cursos da Mulher em Construção, Marise Licks, a ong já capacitou 4 mil mulheres em uma década de existência. O principal objetivo do projeto, explica Marise, é dar uma melhor qualidade de vida às mulheres em vulnerabilidade social.
– Capacitadas, elas podem realizar pequenas reformas na própria casa, trabalhar como autônomas e ainda buscar emprego como servente de obras – completa.
Trabalhar na área é o que pretende fazer a babá e motorista particular Josiane Baptista Rodrigues, 38 anos. O curso oportunizou a ela ter a certeza de que seguirá no ramo.
– Sempre procurei cursos para mulheres, mas eu não tinha condições de pagá-los. Agora, quero me especializar mais e trabalhar em obra. Em casa, até já arrumei umas tomadas e consertei o chuveiro – conta, faceira.
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Assim como as alunas, a instrutora Cleci Policeno, 35 anos, que trabalhava como cozinheira há mais de dez anos, descobriu a construção civil numa oficina gratuita, há quase dois anos.
– Foi virando massa de cimento que me encontrei no que queria para a minha vida profissional. Na própria ong, fiz o curso de instrutora e me tornei auxiliar do engenheiro da instituição. Hoje, auxilio em obras e sou professora nos cursos. Nunca mais quero deixar a construção civil – afirma, confiante.
Saiba mais
* A oficina tem duração de 20 horas e é voltada a mulheres de baixa renda.
* No momento, não há datas previstas para inscrições em novas oficinas gratuitas.
* Informações sobre novos cursos podem ser obtidas no site da ong, o mulheremconstrucao.org.br, ou pelo e-mail mulheremconstrucaobrasil@gmail.com.