O governo iemenita aceitou neste domingo uma proposta da ONU para colocar fim ao conflito que começou há 16 meses, mas os rebeldes o rejeitaram, insistindo que qualquer acordo deve prever um governo de união.
A proposta retoma vários pontos da resolução 2.216 do Conselho de Segurança e sugere a retirada em 45 dias dos rebeldes xiitas huthis, apoiados pelo Irã, das zonas ocupadas desde 2014, entre elas a capital, Sanaa.
O acordo também contempla a restituição das armas pesadas roubadas do exército, o levantamento dos cercos das cidades e a libertação de todos os prisioneiros.
O anúncio do governo foi feito após uma reunião na capital do Kuwait liderada pelo presidente do Iêmen, Abd Rabo Mansur Hadi.
Segundo meios de comunicação políticos iemenitas, o governo aceitou a proposta pressionado por seu aliado saudita, que busca bloquear os rebeldes xiitas e demonstrar, assim, que eles não querem a paz.
No sábado, as autoridades iemenitas estiveram prestes a abandonar as negociações, que começaram em abril sem chegar a nenhum resultado até agora, mas por fim se resignaram a prolongá-las por mais uma semana.
"A reunião aprovou o projeto de acordo apresentado pelas Nações Unidas e que pede o fim do conflito armado, assim como a retirada (dos rebeldes) de Sanaa (...) e das cidades de Taez e Hodeida", indica um comunicado publicado após a reunião.
Não sem um governo de união
No entanto, o governo coloca como pré-condição que os rebeldes huthis e as forças leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh assinem o acordo até 7 de agosto.
Os rebeldes, no entanto, rejeitaram a proposta.
"O que o enviado (da ONU) apresentou são apenas ideias para uma solução em relação à segurança, sujeitas a debate, como outras propostas", afirmou um comunicado da delegação rebelde.
Os rebeldes reiteraram sua exigência de que todo acordo de paz deve prever um presidente eleito por consenso e um governo de união nacional antes de chegar a pactos em temas militares ou de segurança.
Antes do anúncio do governo, o porta-voz dos huthis, Mohamed Abdelsalam, havia dito no Twitter que os rebeldes exigiam uma solução completa para que os dois lados compartilhem o poder.
Saleh na linha de frente
Ao mesmo tempo em que a ONU elaborava esta nova proposta de paz, os rebeldes xiitas realizaram no sábado uma grande incursão no sul da Arábia Saudita, confrontos que provocaram a morte de sete soldados sauditas.
A força aérea saudita atuou, deixando "dezenas de mortos" nas fileiras dos rebeldes e seus aliados, segundo um comunicado da coalizão árabe liderada por Riad no Iêmen.
No sul do Iêmen, na província de Chabwa, 18 huthis e 15 soldados perderam a vida em uma ofensiva lançada pelos rebeldes na noite de sábado para ampliar seu controle na zona de Asilan, informaram outras fontes militares.
Por sua vez, dois policiais morreram em um atentado com bomba em Aden, onde a explosão de um carro bomba não deixou outras vítimas, indicou a polícia.
Durante a noite, o ex-presidente Saleh reuniu em Sanaa membros de seu partido, o Congresso Popular Geral (CPG), para denunciar novamente a legitimidade de Hadi, exilado em Riad, mas considerado o chefe de Estado do Iêmen pela comunidade internacional.
"O acordo estratégico (com os huthis) para estabelecer o Conselho Superior serve para preencher o vácuo político após o fim da legitimidade de Hadi e sua fuga do país", declarou.
"Este Conselho governará o país como instância presidencial de acordo com a Constituição e as leis em vigor", insistiu.
Mas a anulação deste acordo é um dos pontos da última proposta de paz da ONU, assim como a supressão de todas as decisões tomadas pelos rebeldes desde sua ocupação de Sanaa, segundo o chefe da delegação governamental nas negociações do Kuwait e chefe da diplomacia, Abdelmalek al Mikhlafi.
Desde março de 2015 o conflito no Iêmen deixou ao menos 6.400 mortos e 2,8 milhões de pessoas deslocadas, segundo dados das Nações Unidas.
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