Em delação premiada, Marcelo Odebrecht teria afirmado a investigadores da Operação Lava-Jato que conversou com a presidente afastada Dilma Rousseff, no período da eleição de 2014, para tratar sobre o pagamento de R$ 12 milhões "por fora". O dinheiro deveria ser repassado ao marqueteiro João Santana, que atuou na campanha da petista, e também ao PMDB.
Odebrecht teria sido procurado pelo ex-ministro Edinho Silva, que solicitou os repasses. Ele disse ter negado inicialmente, mas, diante da pressão de Edinho, que foi tesoureiro da campanha de Dilma, resolveu procurar a então presidente em campanha de reeleição para conversar.
– Presidente, resolvi procurar a senhora para saber o seguinte: é mesmo para efetuar o pagamento exigido pelo Edinho? – perguntou Odebrecht.
– É para pagar – teria respondido Dilma.
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As informações são da revista IstoÉ, que cita um acordo de confidencialidade que Odebrecht firmou com a Lava-Jato. O executivo está preso há quase um ano em Curitiba por participação no esquema de desvio de recursos da Petrobras. Segundo a reportagem, do montante solicitado por Edinho, R$ 6 milhões seriam para João Santana – também preso em Curitiba por ter recebido dinheiro de forma oculta no Exterior – e os outros R$ 6 milhões seriam para o PMDB. A conversa ocorreu após o primeiro turno da eleição de 2014 e a verba seria utilizada para a reta final do pleito.
A delação premiada de Odebrecht e de outros executivos da empreiteira é a mais temida em Brasília. Além de implicar Dilma, a empresa poderá envolver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta da reforma feita por ela no sítio de Atibaia, que teria o ex-presidente como verdadeiro dono e beneficiário.
A Odebrecht costumava fazer pagamentos a lideranças de diversos partidos. Recentemente, foi descoberta uma lista com nomes de mais de 200 políticos de 24 partidos. Não se sabe se eles receberam recursos legais ou ilegais. A empreiteira tinha um departamento de propina, segundo investigação da Lava-Jato. As revelações da empresa deverão atingir em cheio os principais partidos do país, desde o PT até o PMDB e o PSDB. O ex-senador José Sarney (PMDB-AP), sem saber que estava sendo gravado pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disse que a delação da Odebrecht é "metralhadora de ponto 100".