Quase cinco anos depois de uma madrugada de terror em um posto de combustíveis de Cachoeira do Sul, a Justiça condenou por latrocínio três homens envolvidos no assalto que resultou na morte do policial civil Diego Veiga dos Santos. Ele foi assassinado aos 29 anos, com um tiro no peito. O crime ocorreu em 5 de setembro de 2011, no posto Laranjeiras, às margens da BR-290.
Foram condenados Nestor Kaufmann da Silva, o Paraíba, 54 anos, e José Marcelo Reyes Morales, 39 anos, a 28 anos e 11 meses de prisão. Um terceiro suspeito ainda responde o processo. Ainda cabe recurso.
Na noite do crime, passava um pouco da meia-noite, quando dois funcionários e dois policiais (um civil e um militar, que estariam no local como clientes, vendo TV em uma loja junto ao posto, fechada com vidros) foram surpreendidos por um bando que chegou em uma caminhonete Strada verde escura, já disparando.
Santos e o amigo dele, um soldado da Brigada Militar (BM) de 40 anos, pularam para trás de um balcão e reagiram, trocando tiros com os bandidos. As balas teriam ultrapassado o móvel. Santos foi atingido com um tiro no lado esquerdo do peito e morreu no local. De acordo com a necropsia, o projetil perfurou o coração e o pulmão. O policial militar fugiu por uma porta lateral após efetuar cinco tiros e ficar sem munição.
Após o confronto, os bandidos renderam clientes que chegavam para abastecer. Quatro pessoas que estavam em uma Hilux tiveram a caminhonete roubada. Um caminhoneiro foi agredido com um chute no rosto. Os dois frentistas foram obrigados a encher o tanque de duas caminhonetes para a fuga (a Strada do bando e a Hilux roubada). Um dos funcionários ainda foi obrigado a pegar o dinheiro da loja (cerca de R$ 4 mil em cheque e R$ 1 mil em dinheiro) e entregar aos bandidos. Não satisfeitos, os ladrões voltaram ao interior da loja para verificar se o policial estava morto e pegaram sua arma.
Eles usaram os clientes e os frentistas como escudos, na tentativa de encontrar mais dinheiro. Como as demais peças estavam trancadas, desistiram e fugiram, levando os frentistas como reféns, um em cada veículo.As vítimas foram liberadas a pouco mais de um quilômetro de distância, às margens da BR-290, no sentido Porto Alegre.
Dois dos envolvidos só foram capturados nove meses depois. Passado um ano do crime, o inquérito não havia sido concluído.
Entrevista
Um dos frentistas do posto assaltado, que pediu para ter o nome preservado, contou como foi a ação:
Diário de Santa Maria – Como foi o assalto?
Frentista – Estávamos assistindo TV, e os policiais, tomando café. Vimos a caminhonete que chegou correndo,estacionou e eles (bandidos) apareceram pelo vidro. E começou a troca de tiros com os policiais.
Diário – O que você fez?
Frentista – Me atirei no chão, entre os vidros e o balcão, para me fingir de morto. Baixei a cabeça e não vi nada.
Diário – O que houve depois?
Frentista – Eles me disseram: "Vai para fora, se não vamos te matar". Coloquei a mão na cabeça e saí. Mandaram encher o tanque das caminhonetes (Hilux, roubada de um cliente, e Strada, que eles usavam) e pegar o dinheiro.Entreguei a eles mais ou menos 4 mil (reais) em cheques e mais uns mil (reais) em dinheiro. Eles levaram a CPU, onde acharam que estavam as imagens das câmeras, mas elas (cenas) não estavam lá (na CPU). Aí deixaram a CPU na Hilux, quando abandonaram o veículo.
Diário – Em que momento te fizeram refém?
Frentista – Eles pediram mais dinheiro, mas eu disse que estava na outra peça, chaveada. Eles deram uns pontapés e não conseguiram abrir (a porta). Me fizeram de escudo e foram ver se o policial estava morto. Aí um deles me disse: "Fica na tua que não vai sobrar pra ti". Me colocou na caminhonete (Strada). O outro frentista foi levado pelos outros na outra caminhonete (Hilux). Me levou até a primeira ponte, cerca de um quilômetro em direção a Porto Alegre, me largou e disse: "Corre para o mato".
Diário – Como conseguiu ajuda?
Frentista – Fiquei escondido no mato e vi um cara correndo no asfalto e entrando no mato. Chamei (o nome do colega) e ele veio. Fomos pelo mato até a casa de um conhecido. Pedi o telefone e liguei para minha família e para o dono do posto.
Diário – Em que momento sentiu mais medo?
Frentista – Na hora em que estava no chão, com tiros para todo o lado. Achei que iam matar nós todos.