Um telefonema de um professor de Uruguaiana que está no Tocantins. O contato de uma ONG. Uma doação anônima que chega de motoboy após uma breve ligação anônima. O telefone da Escola Estadual de Ensino Fundamental Aurélio Reis não para de tocar. Um dia após ser alvo de um arrombamento e ter 110 netbooks furtados, a instituição e seus 249 alunos viram a violência dar lugar à solidariedade.
– A primeira ligação foi de uma senhora, ontem (quarta-feira) ainda. A gente estava na sala da direção. Ela ligou, disse apenas pra gente receber um motoboy. Pouco depois, chegou um envelope com R$ 2,4 mil. Nos olhamos e começamos a chorar – conta a diretora Nássara Scheck.
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Somente o valor dessa doação anônima – a empresária implorou que seu nome não fosse divulgado – cobriu o investimento do sistema de alarmes instalado na escola. Até então, a única proteção contra criminosos que a Aurélio Reis tinha eram os cadeados nos portões.
Na tarde desta quarta-feira, todas as portas arrombadas já haviam sido substituídas por novas, e as portas e armários exibiam outros cadeados. O crime ainda é visível nos vazios das prateleiras onde ficavam os netbooks e nos fios pendurados de onde fora arrancado o único projetor furtado. O aparelho fica na sala (foto abaixo) onde, de manhã, ocorrem as aulas das disciplinas de História e Geografia e que, à tarde, abriga a turma 21, composta por estudantes do 2º ano.
A professora dos pequenos, Ali Castro, teve de refazer todo o planejamento da aula, que estava toda baseada na projeção de imagens sobre a lousa digital.
– Estou trabalhando com eles as horas e a movimentação do sol. Eu iria exibir slides com o conteúdo e depois eles usariam as canetas digitais para preencher os exercícios na lousa. Sem o Data Show, levei os alunos para ver o sol na rua e as atividades serão no caderno – conta Ali. – É um retrocesso, porque a interatividade é um diferencial das nossas aulas – conclui ela.
Na lista de doações, está verba para novos netbooks, computadores e outros materiais. Toda a ajuda vinda de pessoas sem nenhuma ligação com a escola. Pai de um estudante e presidente do Círculo de Pais e Mestres (COM), Neimar Pozser se surpreendeu com a repercussão.
– A gente está acostumado a doar materiais e dinheiro, abrir mão do trabalho e dos finais de semana pela escola. Mas todas essas pessoas que nem nos conhecem ajudando? Me faz ter certeza que. por mais grave que algo nos aconteça, a gente vai conseguir superar – constatou o instalador de antenas, que, desde quarta-feira, não foi trabalhar para ajudar a reorganizar a instituição.