Quase morri de raiva quando ela decidiu mandar eu e meus irmãos para a escola em uma carroça. Nós éramos pequenos e os colegas tiravam onda de nossa cara por nosso "táxi" ser puxado por um cavalo. Aliás, eu, quando pequeno, achava que minha mãe adorava me fazer passar vergonha. Me lembro que, na volta da escola, eu me escondia quando a via varrendo a rua.
Ficava sem jeito de dizer, em sala de aula, que ela ganhava a vida limpando banheiros. Chorei como nunca quando ela começou a fazer faxina na casa de um colega meu de sala de aula. Me perguntava por que ela me fazia passar tanta vergonha.
Hoje, ainda sinto vergonha, não pelas atitudes dela, mas pelas minhas. Morávamos em uma favela complicada, e ela nos mandava de carroça para nos proteger, pois, já naquela época, os traficantes assediavam as crianças.
Eu sentia vergonha dela varrendo rua, mas adorava as roupas que ela comprava. Porém, não conectava as duas coisas. Quando foi demitida da prefeitura e quase passamos fome, ela conseguiu a faxina que me envergonhou, mas graças a isso tínhamos comida em casa.
Lições
O que nossa mãe fez e faz por nós traz lições que, muitas vezes, só entendemos depois que o tempo passa. Alguns que estão lendo nem têm mais suas mães por perto, mas, ao buscar na lembrança, conseguem aprender com os atos delas.
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Quero pedir perdão à minha mãe, Dona Ivanete, por sentir vergonha dela, e pedir a Deus que ela jamais se envergonhe de mim.