Se os efeitos da crise econômica podem ser facilmente percebidos a partir da perda do poder aquisitivo e do desemprego, porque são baseados em números, como identificar se o aperto no orçamento doméstico pode estar colocando a saúde do seu relacionamento amoroso em risco?
O DG conversou com especialistas que fazem um diagnóstico sobre como blindar o casamento num momento delicado para a economia.
Oportunidade
Para a professora da pós-graduação em Psicologia da Unisinos Denise Falcke, a crise pode ser vista sob dois prismas: como perigo – porque aumenta o estresse, gera conflitos e instabilidade na vida conjugal – e como oportunidade de crescimento, ou seja, a chance de sentar, conversar, preparar-se para mudanças e, com isso, promover um momento de aproximação do casal.Conforme a professora, é importante o casal antecipar-se à crise para verificar o que não é prioridade e fazer uma renegociação.
– É importante conversar. Problemas sempre vão existir. Casal saudável é aquele que consegue ter flexibilidade e achar estratégias para lidar com os problemas que vão surgir – explica.Juntos há nove anos, a estudante Samara Sá, 28 anos, e o conferente Tales Bocorny, 27 anos, do Jardim Botânico, já colocam em prática há tempos a organização de despesas.
Responsável pelo orçamento, Tales tem variação de renda mensal por conta de seu trabalho no porto da Capital.
– Não fazemos dívidas porque não sabemos o dia de amanhã – avalia Tales.
De acordo com Samara, em épocas de renda menor, o casal não deixa de sair e de estar junto:
– Tomamos chimarrão, vamos a museus, fazemos programas que não se tenham despesas.
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Faxina
Para o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, é fundamental que o casal estabeleça um projeto de vida em comum. Além de manter a chama acesa, ajuda a não fazer gastos desnecessários.
Em tempos de crise, diz Reinaldo, é importante olhar para o padrão de vida. Se o casal já estiver inadimplente ou negativado, terá de agir.
– É preciso fazer uma faxina financeira. Trocar marcas de produtos, ir ao mercado com um valor máximo determinado, deixar de comprar roupas, reduzir pela metade o consumo de energia. Ações pontuais são importantes – orienta.
Sem brigas por dinheiro
A cabeleireira Graziela Didio da Silva, 45 anos, e o garçom Adriano da Silva, 46 anos, de Guaíba, seguiram à risca o conselho de antecipar-se à crise. Desde setembro do ano passado, o casal corta despesas.
– A gente cortou tudo para não ter gastos extras. Pagamos despesas de todos os meses, como água, luz, tevê a cabo, e cortamos carnês de lojas e besteiras –explica a cabeleireira.
Até na alimentação houve alterações. Os churrascos de domingo, que custavam cerca de R$ 150, passaram a tornar-se eventuais.
Casados há 23 anos, Graziela e Adriano contam que não costumam brigar por causa de dinheiro. Ao contrário, conversam bastante. E o diálogo será fundamental neste momento, pois o garçom está desempregado. Mas ele avalia que a transição não será problemática porque ele tem uma segunda renda como autônomo.
– Costumamos fazer uma melhoria na casa, ou trocamos de carro. Como vimos que a crise estava próxima, resolvemos segurar. Acompanhamos de perto o que está ocorrendo no país e vimos que iria refletir em nós – afirma Graziela.