Miko Mercer parece ser uma boa candidata a proprietária de uma casa minúscula: solteira, organizada, 1,6 m de altura. E de fato, ela aderiu ao movimento das casinhas que tomou conta dos EUA nos últimos anos.
As janelas de demolição de sua residência, no entanto, não têm vista para uma floresta nem para uma horta comunitária.
Elas dão para paredes de concreto.
No último ano, Miko, 30 anos, construiu uma casa de 15 metros quadrados em um armazém escuro no Brooklyn. Ela trabalha na Birchbox, uma startup em Manhattan que envia kits personalizados de amostras de produtos de beleza e, depois do trabalho e nos fins de semana, normalmente vai de bicicleta até um trecho industrial da Bergen Street, onde fica o armazém, entre uma oficina e uma loja de madeira.
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"Os caras da oficina acham engraçado. Eles dizem: 'Uau, você está construindo isso tudo sozinha?'", disse Miko.
As microcasas – geralmente definidas como aquelas com menos de 37 metros quadrados e muitas vezes construídas sobre rodas – começaram a aparecer no início de 2000 e se popularizaram desde a recessão de 2008. Elas proporcionam a emoção da casa própria sem o peso de um financiamento e sua semelhança com casas reais ajudou a acabar com o estigma das alternativas de habitação compactas e econômicas – como trailers, estúdios ou quartos individuais.
O fascínio que geraram estimulou uma pequena indústria. Equipes de TV seguem almas intrépidas no processo de migração para o espaço minúsculo e blogs, livros e podcasts narram a construção e a mudança – e quando as coisas dão errado, o divórcio, o roubo. As pessoas publicam e compartilham fotos de casinhas com a mesma paixão que têm por vídeos de gatos; há até um fotoblog chamado "Cabin Porn".
Miko está construindo sua casa no Brooklyn, mas provavelmente não vai morar lá. A obra tem rodas e, quando acabada, vai rebocá-la, possivelmente para o norte do estado, onde há uma colônia de casas minúsculas do pessoal meio de esquerda do mundo de TI.
Na cidade de Nova York, a tendência de viver em ambientes pequenos veio na forma do microapartamento. A cidade recentemente liberou a construção de residências com menos que os 37 metros quadrados mínimos para uma incorporadora em Kips Bay, que ofereceu 14 unidades com metragens abaixo das do mercado – cada uma com cerca de metade do tamanho de um vagão do metrô. Sessenta mil pessoas se inscreveram. O plano de habitações a preços acessíveis, recentemente aprovado do prefeito Bill de Blasio, abriu o caminho para mais dessas unidades.
Mas as casas minúsculas não aparecem por toda a cidade. A densidade de construções é muito grande, disse Ryan Mitchell, responsável pelo blog The Tiny Life. Não há espaço. Além do mais, esse tipo de casa é normalmente construído sobre rodas e classificado como veículo de veraneio para poderem se encaixar nos requisitos mínimos de metragem. Isso resolve um problema, mas gera outro: em muitos lugares, não é permitido morar em veículos desse tipo; e em Nova York é mais difícil achar um local para eles.
"Não conheço ninguém que more em uma microcasa na cidade de Nova York", disse Tim Tedesco, um dos organizadores do Entusiastas de Casas Minúsculas de NYC, no Meetup.com.
Dos 270 membros do grupo, apenas dez têm casinhas. Um mora em uma casa centenária em Staten Island que antecede o limite mínimo de 37 metros quadrados, promulgado em 1987; outros têm pequenas casas fora da cidade e vão para lá apenas para visitar ou trabalhar. Tedesco recentemente vendeu sua casa de 17,7 metros quadrados em Stony Brook, Nova York para pegar a estrada com uma microcasa de 3,25 metros quadrados.
Segundo Miko, ela decidiu construir a sua no Brooklyn não para desafiar o status quo, mas porque não sabe dirigir. "Foi mais fácil construir aqui, porque minha vida é aqui", acrescentou.
Filha de uma artista japonesa e um americano que trabalhava em hotéis, ela cresceu em Nova Orleans, Los Angeles, Boston, Chicago, Japão e Cingapura e se mudou para Nova York para ir para a universidade. Trabalhou em restaurantes durante o curso, até vinte e poucos anos, à noite, após o trabalho diurno.
Quando se aproximava dos 30 anos e começou a subir na Birchbox, onde agora dirige a divisão de cuidados com a pele, decidiu adquirir um imóvel, mas descobriu que não poderia comprar nada na cidade, embora sua renda fosse muito boa e ela praticamente não tivesse dívidas.
No ano passado, o preço médio de um apartamento teve novo aumento, chegando a US$ 1,7 milhão em Manhattan, superando seu último pico, em 2008, antes do colapso do mercado imobiliário. "Em Nova York, se você quiser comprar algo, tem que ser em casal, a menos que tenha uma herança. Essa é uma opção possível para quem tem renda de solteira", disse Miko.
Ela estima que sua microcasa custe cerca de US$30 mil.
O projeto começou em princípios de 2015. Miko comprou um suporte para trailers por US$2.650 e alugou o espaço do armazém.
Ela mesma fez o projeto usando um programa chamado Sketchup.
Seus bens se resumem a uma cama queen size, uma pequena mesa e um conjunto de prateleiras para livros, cosméticos e sapatos. As roupas ficam em um antigo armário de vassouras e em quatro gavetas plásticas.
Simplificar foi fácil, mas ela nunca havia usado uma ferramenta elétrica.
Quando decidiu mudar para o estilo "minúsculo", estava namorando um fabricante de móveis, Stephen Muscarella (os dois se separaram e ele começou uma empresa de frigideiras de ferro fundido). "Não queria que fosse a história de uma garota cujo namorado é carpinteiro e que construiu uma casa para ela. Não foi assim", disse Muscarella.
"Miko estudou cada etapa do processo de construção. Eu a ensinei a usar as ferramentas necessárias e ela aprendeu rapidinho", completou.
Planejou com precisão; usou madeira nova, mas planejava cada corte para não desperdiçar nada.
Descobriu o isolamento de denim reciclado; as janelas vieram de uma casa de fazenda antiga – e, a partir do modelo em seu laptop, surgiu uma casa real e sólida.
Parecia tudo muito fácil.
"Nos programas de TV, o drama é reduzir a quantidade de sapatos ou qualquer outra coisa e daí 10 caras grandes vêm e constroem a casa em 10 dias, no fim mostram o resultado e pronto, acabou. E eu aqui pregando as telhas na minha casa, sozinha, à mão, levando meses." Ela riu.
Agora, vai instalar o telhado e a parte interna. Então, começa a busca por um lugar para se instalar. Ela pensou em Far Rockaway, Montauk e outros locais ao norte, perto de alguma estação de trem para poder vir trabalhar. "Usá-la apenas como um retiro de fim de semana pode ser o plano mais razoável, mas quero morar nela", disse.
"A ideia é essa. Quero viver nela, e tem que ser na natureza, não em um armazém de concreto."