Após mais de 13 horas de discussão sobre o parecer do relator do processo de impeachment na câmara dos Deputados, Jovair Arantes (PTB-GO), parlamentares encerraram os trabalhos da comissão por volta das 4h40min deste sábado.
No momento da conclusão, 28 parlamentares estavam presentes - o colegiado tem 65 integrantes titulares. Dos 116 deputados que estavam inscritos para falar durante a sessão, somente 61 se pronunciaram. Destes, 21 posicionaram-se contra o parecer do relator - que recomenda a abertura do processo de impeachment -, um mostrou-se indeciso, e outros 39 declararam-se favoráveis.
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A discussão deve ser retomada na manhã da próxima segunda-feira, quando somente os líderes partidários poderão falar. À tarde, a comissão especial deverá votar o parecer do relator. De acordo com pesquisa do Datafolha, 60% dos deputados federais devem votar pelo impeachment.
Se aprovado, o parecer será publicado no Diário Oficial da Câmara. Após 48 horas da publicação, o presidente da Casa poderá levá-lo para votação em plenário.
A sessão que terminou na madrugada deste sábado foi marcada por momentos de discussão, distribuição de energético e pão com mortadela. O bate-boca foi protagonizado pelos deputados Silvio Costa (PT do B-PE), um dos vice-líderes do governo, e Danilo Forte (PSB-PE), a favor do impeachment.
A discussão começou após Costa chamar o relatório de "peça jurídica esdrúxula".
- Não achincalha - disse Forte.
Costa reagiu:- Imbecil! Pior Imbecil é o que quer ser inteligente.
Danilo forte rebateu:- Palhaço!
Nos discursos apresentados na sessão, deputados governistas e opositores deixaram o parecer do relator de lado e se focaram em críticas aos opositores. Deputados ligados ao governo lembraram que partidos também são alvo de suspeitas de corrupção e os acusaram de não aceitarem ter perdido as últimas eleições, e quererem tirar Dilma do cargo por meio do que chama de "golpe".
Também foi lembrado que a linha de sucessão de Dilma é composto por pessoas sob suspeita, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).
Já os parlamentares da oposição concentram suas críticas a suspeitas do governo Dilma, algumas alheias ao parecer do relator, bem como contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. Opositores apostaram também na estratégia de dizer que aqueles que votarem contra o impeachment estarão concordando com os crimes de responsabilidade a que a petista é acusada na representação.
Durante os discursos, o governo recebeu críticas até de deputados aliados do Palácio do Planalto. Embora tenha dito ter convicção de que a presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade que justifique seu afastamento, o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), fez uma dura crítica à petista durante seu discurso, feito já na madrugada deste sábado.
Picciani afirmou que o Brasil chegou a atual situação, "porque quem ganhou a eleição não teve a humildade de reconhecer que ganhou uma eleição dividida e chamar o País a uma reconciliação e quem perdeu não teve a resignação de aceitar o resultado e pensar no País; preferiu contestar e pensar apenas na sua ambição política". "Essa página, sim, seja qual for o resultado, tem que ser virada", disse.
Do lado de fora do plenário, manifestantes contrários ao impeachment distribuíam pão com mortadela. Diante da polarização política no País, convencionou-se relacionar mortadela aos apoiadores do governo e coxinha aos defensores do impeachment.
Parlamentares se revezaram durante a madrugada para evitar que o plenário ficasse vazio. Por volta das 2h, no entanto, apenas um parlamentar governista estava presente: Paulo Pimenta (PT-RS). Alguns deputados só chegavam na hora de falar e deixavam após o discurso.