Sobrou para o deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS) o cuspe disparado por Jean Wyllys (PSOL-RJ) contra o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) durante a votação do impeachment da presidenteDilma Rousseff, no plenário da Câmara dos Deputados.
O ato, flagrado por Zero Hora, ganhou tanto ou mais repercussão quanto os inflamados discursos proferidos a cada voto no último domingo, quando ficou decidida a continuidade do processo.
Por telefone, Heinze afirmou, na manhã desta segunda-feira, que ter sido alvo do cuspe não o distraiu da contagem de votos, mas que deverá representar contra o deputado do PSOL por falta de decoro parlamentar.
– Quando vi, minha cara estava com um cuspe do colega. Senti nojo – disse Heinze.
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A situação ocorreu minutos após os parlamentares terem proferidos seus votos. De acordo com Wyllys, o ato foi motivado por insultos que Bolsonaro teria desferido contra ele. Em seu perfil no Twitter, o deputado do PSOL disse que ouviu do parlamentar ofensas como "veado", "queima-rosca" e "boiola".
Já Bolsonaro afirmou que foram as homenagens feitas por ele no discurso o que irritou Wyllys. O deputado do PSC havia dado uma polêmica declaração acompanhada de seu voto "sim", na qual exaltou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e acusado de comandar torturas durante a ditadura militar, além de justificar seu voto pela "família" e pela "inocência das crianças".
Logo após o episódio, Bolsonaro negou que a cusparada tenha atingido sua face. Disse que se abaixou e conseguiu desviar na hora. Amigo de Bolsonaro, Heinze estava próximo ao parlamentar e foi atingido.
Em declarações anteriores, o deputado do PP gaúcho já deixou claras algumas de suas posições que convergem com as do polêmico parlamentar do PSC. Em um vídeo gravado em 2013, declarações inflamadas de Heinze ganharam notoriedade e geraram polêmica. Durante uma audiência pública sobre a demarcação de terras indígenas no país , o deputado gaúcho orientou os agricultores a contratarem seguranças privados para se defenderem dos índios, além de se referir a índios, quilombolas e homossexuais como "tudo que não presta"
Passadas algumas horas da decisão do últmo domingo – e do episódio que acabou protagonizando ao lado dos colegas – Heinze conversou com Zero Hora.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista
Você pode descrever como foi o momento em que levou o cuspe do deputado Jean Wyllys?
Eu estava acompanhando a votação, concentrado. Votei e fiquei próximo aos deputados que estavam fazendo a contagem. Em determinado momento, Bolsonaro fez uma graça para ele, e acabou sobrando para mim. Lamentável.
Você lembra o que o deputado Bolsonaro falou?
Não lembro, pois eu estava cuidado da votação, fazendo cálculos a cada momento. Tinha um assessor que estava fazendo os cálculos no celular, e eu estava acompanhando isso. Vi que o Bolsonaro soltou uma graça, uma "peruada" para o Jean Wyllys, e quando vi minha cara estava com o cuspe do colega.
O que você sentiu na hora?
Senti nojo.
Você viu se o cuspe atingiu mais alguém? Como foi a reação na hora?
Eu nem vi se pegou em mais alguém, foi tão rápido que não cuidei deste detalhe. Só sei que lamento o ocorrido. Limpei o cuspe com a camisa, com roupa que eu tinha, nem saí dali para ir ao banheiro. Como eu lhe disse, eu estava cuidando da votação, contabilizando os votos. Esse era meu interesse. É importante que o Brasil foi às ruas e cobrou dos parlamentares uma posição.
O senhor processará o parlamentar?
Eu vou representar contra ele hoje. Eu estava cuidado da minha função, cuidando dos votos. Não tenho nada a ver com a bronca que ele tem com o Bolsonaro. O Bolsonaro é meu amigo. Vou representar por falta de decoro parlamentar.
O que você espera que ocorra com o deputado do PSOL?
A Câmara que vai examinar. Eu articulei bastante antes da votação e fiquei até o fim acompanhando para conseguir os 342 votos. Nem lembro o que o Bolsonaro falou na hora. Eles têm problemas, eu fui para lá cuidar dos votos e acompanhar o que era meu interesse e dos meus eleitores.
Como você avalia o resultado da votação de ontem? Como espera que será a partir de agora?
Foi um reflexo da posição do povo brasileiro, que em sua grande maioria queria o impeachment. A mesma pressão que sofremos na câmara será feita no Senado. Ontem já tivemos sinais de que o Senado irá fazer o mesmo trabalho e com a mesma serenidade. O povo está cansado dessas mentiras. O golpe é fantasia.