Nos 13 minutos e 51 segundos em que fala ao país como se a Câmara já tivesse votado a favor da continuidade do processo de afastamento de Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer fala sobre temas que variam desde por que razões decidiu se manifestar, quais seriam as bases de um suposto novo governo, até afagos em prefeitos e governadores prometendo estudar o alívio das dívidas com a União.
Confira o áudio completo abaixo
A votação do parecer sobre o impeachment está prevista para ocorrer somente no domingo. Segundo sua assessoria, Temer estaria fazendo um "exercício" ao celular quando o áudio teria sido enviado por acidente para correligionários. Confira, abaixo, alguns destaques do pronunciamento.
As razões do pronunciamento
"Quero, neste momento, me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que, penso, devam ser por mim enfrentadas. E o faço, naturalmente, com muita cautela, porque na verdade, sabem todos, há um mês me recolhi para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidenta da República. Recolhi-me o quanto pude, mas, nesse período, fui procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país."
"Agora, quando a Câmara dos Deputados decide, por uma votação significativa, declarar a autorização para instalar o processo de impedimento contra a senhora presidente, muitos me procuraram para que eu desse pelo menos uma palavra preliminar à nação brasileira, o que eu faço com muita modéstia, com muita cautela, com muita moderação, mas também em face da minha condição de vice-presidente e substituto constitucional da presidente da República."
"Não quero avançar o sinal, até imaginaria que eu poderia falar depois da decisão do Senado, mas, evidentemente, sabem todos os que me ouvem, quando houver a decisão definitiva do Senado, eu preciso estar preparado para enfrentar os graves problemas que hoje afligem o nosso país."
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A "pacificação do país"
"Há mais de oito, 10 meses, tenho feito pronunciamentos referentes à pacificação do país, à unificação do país, porque é chocante, para não dizer tristíssimo, verificar os brasileiros controvertendo-se entre si, disputando ideias e espaços, até aí tudo bem, mas quando parte para uma coisa quase física, isso não pode acontecer no nosso país. Portanto, ao dizer agora que a grande missão a partir deste momento é a pacificação do país, a reunificação do país."
"Aconteça o que acontecer no futuro, é preciso um governo de salvação nacional, e portanto de união nacional. É preciso que se reúnam todos os partidos políticos, e todos os partidos políticos estejam dispostos a dar a sua colaboração para tirar o país da crise. Sem essa unidade nacional, penso que será difícil tirar o país da crise em que se encontra."
Planos para a economia
"Sem sacrifícios, nós não conseguiremos também avançar para retomar o crescimento e o desenvolvimento que pautaram a atividade no nosso país nos últimos tempos, antes desta última gestão. É preciso retomar o crescimento, e não quero que isso fique em palavras vazias. Tenho absoluta convicção, como muitos me dizem, que a mudança pode gerar esperança, e a esperança gerará investimentos".
"É preciso prestigiar a iniciativa privada, é preciso que os empresários do setor industrial, do setor de serviços, do setor agrícola, do setor do agronegócio, portanto, dos vários setores da nacionalidade, se entusiasmem novamente com esses investimentos. Mas, ao dizer isso, estou pensando apenas naqueles que possam investir? Não. Estou pensando em manter as conquistas sociais obtidas nos últimos tempos. Por exemplo, o emprego é uma coisa fundamental para todos os brasileiros. Para que haja emprego, é preciso conjugação dos empregadores com os trabalhadores."
Programas sociais
"É preciso manter certas matérias sociais, porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país pobre. Eu sei que dizem, de vez em quando, que se outrem assumir, nós vamos acabar com o Bolsa-Família, vamos acabar com o Pronatec, vamos acabar com o Fies. Isso é falso, mentiroso e é fruto dessa política mais rasteira que tomou conta do país. Portanto, neste particular, quero dizer que deveremos manter esses programas e, se possível, até revalorizá-los e ampliá-los, até que, e isto quero deixar claro, o Bolsa-Família, por exemplo, há de ser um estágio do Estado brasileiro. Daqui a alguns anos, é possível que a empregabilidade tenha atingido tal nível que não haja mais necessidade do Bolsa-Família. Mas, enquanto existir a necessidade, nós manteremos. Portanto, lanço mensagem àqueles que têm o capital, àqueles que querem uma mensagem do trabalho, e lanço uma mensagem para aqueles que sequer trabalho ainda conseguiram. É claro que vamos incentivar enormemente as parcerias público-privadas na medida em que isso pode trazer emprego ao país."
"O Estado brasileiro tem dificuldade na saúde, segurança, educação, tem alguns temas fundamentais que não podem sair da órbita pública, mas no mais tem de ser entregue à iniciativa privada, iniciativa privada no sentido da conjugação da ação entre trabalhadores e empregadores, e neste particular nós pretendemos fazer várias reformas que incentivem essa harmonia entre esses dois setores da produção brasileira."
Governabilidade
"Não pensemos que, se houver uma mudança no governo, em três, quatro meses, estará tudo resolvido. Em três, quatro meses, pode começar a ser encaminhado para resolvermos a matéria ao longo do tempo. Se houver este governo de transição, ou, se não houver, fica esta sugestão que estou fazendo para o governo que vier a manter-se."
"É preciso governabilidade, e a governabilidade exige que haja aprovação popular do próprio governo. Portanto, a classe política unida com o povo levará ao crescimento do país e ao apoio ao governo."
Pacto federativo
"Sei, por exemplo, no tópico da federação, da grande dificuldade dos Estados e municípios nos dias atuais, e há estudos referentes a eventual anistia ou perdão de uma parte das dívidas, e até uma revisão dos juros que são pagos pelas unidades federadas. Nós vamos levar isso adiante."