O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, pediu nesta sexta-feira que as pessoas tenham calma durante os debates políticos. Ele disse que se preocupa com o sentimento de raiva e ódio que aflora por causa das divergências políticas e da intolerância a respeito de opções de vida de cada pessoa. As declarações de Aragão foram dadas na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde ele participou da assinatura de uma nota conjunta conclamando o povo brasileiro a buscar uma solução pacífica para a crise política e repudiar qualquer forma de violência.
– Precisamos baixar a bola, precisamos desacelerar para que tenhamos serenidade nesse momento, de modo a enfrentar as dificuldades do país. Está na hora – afirmou.
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Além do Ministério da Justiça e da CNBB, o Ministério Público Federal e o Instituto dos Advogados Brasileiros também pediram equilíbrio e racionalidade diante do atual cenário do país. Sobre a nova fase da Operação Lava-Jato, o ministro disse que não comentaria o assunto e não falaria na sede da CNBB.
– Parece que há grupos de pessoas interessados no "quanto pior, melhor". Com isso, deixam o país com dificuldades de manter a qualidade de sua governança e a economia em suspenso e na insegurança – acrescentou o ministro, esclarecendo que é preciso garantir que os três poderes funcionem regularmente.
Segundo Aragão, como a votação das eleições presidenciais de 2014 terminou com uma diferença pequena entre os candidatos, "isso levou muita gente a achar que estava legitimado trabalhar contra o resultado das eleições. Isso não é bom e pode nos infestar."
– É importante sim, na democracia, que haja revezamento no poder, mas esse revezamento só é possível de forma tranquila se todos nós enxergarmos o outro alguém tão legitimado quanto nós – argumentou.
De acordo com o ministro, a Polícia Federal investigará os casos de criminalidade, como ataques a pessoas e a sedes de partidos e instituições. Ele adiantou o reforço da segurança para autoridades que estão passando por constrangimentos por causa de sua posição.
O secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner, disse que a nota das entidades é apartidária e que a CNBB não se posiciona contra ou a favor de um possível impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
– A CNBB nunca vai se pronunciar a favor ou contra, a constituição prevê o impedimento e é preciso verificar se o motivo tem ou não fundamento e eu não sou a pessoa indicada para isso – alertou dom Leonardo.
Intolerância
Para o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Veiga Rios, o documento das entidades é um alerta sobre os perigos da intolerância e das agressões físicas e morais, especialmente aquelas feitas pelas redes sociais.
– Têm nos preocupado as mensagens de ódio e ressentimento que passam pelas redes e que não chegam somente às divergências políticas, mas atingem às diversas categorias de pessoas, como negros, judeus, mulheres e gays.
Conforme o ministro da Justiça, nas redes sociais as pessoas dizem coisas que não diriam se os interlocutores estivesse frente a frente.
– Ele não olha nos olhos. Ele olha para um monitor e ali, me parece, afloram aqueles instintos mais primitivos das pessoas. Muitas vezes se escondem no anonimato. É a mesma fonte de perversidade que anima, por exemplo, a pornografia infantil na rede. É o anonimato.
Eugênio Aragão destacou ainda que os conflitos dentro das famílias e dos grupos de amigos devem ser evitados.
– É uma coisa que nos afeta na nossa profunda intimidade e isso cria uma cultura da insatisfação, de violência e até de uma psicose coletiva. Temos de ultrapassar isso para podermos resolver os problemas do país – concluiu o ministro.
*Zero Hora com agências