O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que a noite deste domingo, quando ocorreu a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, não foi "fácil" para ele. Ao pedir desculpas por causa de um possível abatimento, FHC, que participa nesta segunda-feira de evento sobre estado do Direito, em São Paulo, disse que a última noite foi "bastante agitada". "E o dia também será agitado", ponderou o ex-presidente, sem fazer referência direta ao processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, que agora segue para análise no Senado.
FHC afirmou, em sua palestra, que a corrupção se agravou no país à medida que deixou de ser má conduta de uma pessoa para se tornar uma medida organizada, de fortalecimento de partidos. "O fluxo de recursos hoje é para a manutenção de poder, de partido e, eventualmente, escorrega algum dinheiro para o bolso das pessoas", afirmou, em referência a escândalos como o desvio de dinheiro da Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato. O político ressaltou, contudo, que os órgãos responsáveis para coibir a corrupção também passaram a se organizar.
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No início de sua palestra, o ex-presidente relembrou o histórico da democracia brasileira, que, para ele, não é tão nova quanto parece.
– Com a Regência vimos uma aproximação entre a ideia, a lei e o povo. E começou a se construir um jogo, e aí passou a se acreditar na lei. O jogo de alternância de poder começou a existir. Se Dom Pedro II fez algo de mais notável, de alguma maneira ele organizou o Estado brasileiro – afirmou.
FHC também relembrou, durante sua apresentação, o trabalho dos integrantes da Constituinte e da elaboração da Constituição de 1988.
– Fui membro da Assembleia Constituinte e foi um momento muito rico. Nós vínhamos de um Estado militar e só aspirávamos à liberdade. Na época o sentimento era incorporar mais pessoas à sociedade brasileira – falou.
Para ele, na época, houve uma judicialização saudável. O ex-presidente tucano participa da conferência "Desafios ao Estado de Direito na América Latina - Independência Judicial e Corrupção", promovido pela FGV Direito SP, o Bingham Centre for the Rule of Law (Londres) e o escritório global de advocacia Jones Day.