O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), quer investigar o vazamento da delação premiada firmada pelo senador e ex-líder do governo Delcídio Amaral (PT-MS). Na quinta-feira a revista IstoÉ publicou trechos dos depoimentos do parlamentar, nos quais o petista afirma a investigadores que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – alvo da 24ª fase da Lava-Jato nesta sexta-feira – e a presidente Dilma Rousseff se envolveram diretamente em tratativas para atrapalhar o andamento das investigações.
A intenção de Teori Zavascki, segundo fontes do Tribunal, é pedir que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apure o vazamento das informações sigilosas. A delação de Delcídio ainda não foi homologada pelo ministro, o que deve ocorrer nos próximos dias.
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O procedimento de análise do acordo de colaboração é visto com naturalidade no Tribunal, que já homologou as delações de outros investigados que citaram autoridades com foro privilegiado. As primeiras delações homologadas por Teori na Lava-Jato foram as declarações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, em 2014.
Em fevereiro, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou alterações em resolução que trata de investigações criminais. Pelo novo texto, os juízes devem instaurar apuração sobre vazamento de dados e informações sigilosas.
A divulgação precoce das informações sobre a delação de Delcídio, antes do fim do sigilo e da homologação, irritou o relator da Lava-Jato na Corte e também a Procuradoria-Geral da República. Investigadores consideram que o vazamento é um obstáculo para o andamento da apuração - já que possíveis investigados tomam ciência de que seus nomes foram citados e podem, por exemplo, esconder possíveis provas.
O incômodo com o vazamento da delação fez com que PGR e Supremo silenciassem sobre o caso ontem. As declarações bombásticas do senador eram tema único nas rodas de conversa da cerimônia de troca do ministro da Justiça no Palácio do Planalto na manhã de quinta-feira. Exceto em uma: o grupo de procuradores da República que trabalha nas investigações de políticos implicados na Lava-Jato tentava ignorar os debates sobre o tema.
"Não sei de nada", diziam os integrantes do grupo de trabalho criado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e designado para ouvir e definir a estratégia de investigação de parlamentares no esquema. Janot seguiu ontem a mesma linha e preferiu não comentar o caso, mesmo procedimento adotado por Teori Zavascki, que deixou ontem a Corte "sem nada a declarar" sobre o vazamento.
*Estadão Conteúdo