A Polícia Civil acredita ter desarticulado, na manhã desta quarta-feira, a principal quadrilha especializada em roubo, furto e clonagem de caminhões no Estado. Conforme a investigação, que já dura 10 meses, o grupo roubava, em média, 20 veículos de carga por mês – o que representa, segundo o delegado Juliano Ferreira, em torno de 30% do total.
Batizada de Truck, a operação prendeu 15 pessoas, entre líderes, receptadores e ladrões. Três suspeitos seguem foragidos. Os mandados, incluindo de busca e apreensão, foram executados por mais de 120 policiais em sete cidades gaúchas – Porto Alegre, Canoas, Tramandaí, Novo Hamburgo, Viamão, São Leopoldo e Caxias do Sul – e em uma catarinense – Araranguá.
Segundo Ferreira, diretor da Delegacia Regional da Polícia Civil em Canoas, a maior parte dos furtos ocorre na Grande Porto Alegre. Entre os locais mais visados, estão o Porto Seco – região que concentra dezenas de transportadoras na zona norte da Capital –, e postos de combustíveis às margens das BRs 116, 290 e 386, onde os caminhoneiros fazem refeições e dormem.
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O delegado explica que parte dos caminhões é desmanchada para revenda de peças e outra parcela é clonada e levada para a região do Morro dos Conventos, em Araranguá, de onde são revendidos para outros Estados. O valor obtido por um veículo pode variar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. O lucro da quadrilha chegava a R$ 100 mil por mês. Conforme Ferreira, nenhum alvo era aleatório:
– Todos os roubos são encomendados. O receptador liga e diz: "preciso de um caminhão X com tais características". Os líderes fazem contatos com ladrões, que roubam e entregam em um determinado local, o brete, onde o veículo fica por horas ou dias, esfriando, até ser repassado ao comprador – relata o delegado.
Ele ressalta, ainda, o nível de "especialização" dos criminosos, já que há mais barreiras para roubar veículos de carga do que automóveis. Primeiro, tem de saber dirigir caminhão. Mas tem, também, que saber onde fica o rastreador e saber bloquear seu sinal, além de toda uma logística para ter onde guardar.
– É um tipo de roubo que não dá pra qualquer um se aventurar – comenta Ferreira.
Prova disso é que os dois líderes do bando são um mecânico de caminhão – que é Paulo Henrique Cazara, dono de oficina em Canoas – e um caminhoneiro – Ricardo Luís Cusati, que mora em Tramandaí. Ambos foram presos, mas não pela primeira vez.
– Não só são famosos pelo tipo de roubo, como são audaciosos. Pois já respondem por crimes desse tipo e mesmo assim seguem roubando, clonando, vendendo – aponta o delegado. – Agora, esperamos que fiquem presos e que haja uma redução drástica no roubo de caminhões.
Essa redução é também a expectativa do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs). Com uma comissão interna criada justamente para combater o roubo de veículos e cargas, a entidade aponta que as cidades do entorno de Porto Alegre vêm sofrendo muito com os ataques. Somando esse prejuízo com outros fatores, como preço do frete e impostos, o sindicato aponta que muitas empresas e caminhoneiros autônomos acabam tendo suas operações inviabilizadas.
Consultor de segurança do Setcergs e de outras empresas, o coronel João Carlos Trindade aponta, ainda, que a prisão de ladrões de caminhões se reflete em toda a sociedade.
– O roubo de caminhões retroalimenta outros crimes. O dinheiro da venda de um veículo alimenta o tráfico, que leva a um homicídio e assim por diante. Então, quando se corta um dos elos dessa corrente, está se fazendo um grande serviço para a sociedade – avalia Trindade.