Principal líder da oposição e um dos articuladores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi novamente citado nas investigações da Operação Lava-Jato. No acordo de delação premiada que negocia com a Justiça, o senador Delcídio Amaral, suspenso pelo PT, fez referência a uma suposta atuação do tucano em uma CPI do Congresso. Delcídio nominou ainda outros quatro senadores que teriam se beneficiado dos desvios da Petrobras, todos do PMDB: Renan Calheiros (AL), Edison Lobão (MA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO).
As menções de Delcídio aos colegas de plenário foram reveladas pelos jornais Folha de S.Paulo e O Globo. Não há detalhes sobre as circunstâncias em que os senadores estariam envolvidos. Em outras ocasiões, todos os cinco já haviam sido apontados como beneficiários do esquema criminoso. Duas acusações contra Aécio, contudo, já foram arquivadas. Os demais seguem respondendo a inquérito no Supremo Tribunal Federal. Somente Renan Calheiros é alvo de seis investigações derivadas da Lava-Jato.
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A delação premiada de Delcídio ainda não foi homologada pelo STF. O senador exigiu que o teor de suas revelações ficassem em sigilo por seis meses, mas a condição não foi aceita pelo ministro Teori Zavascki. Ainda assim, mesmo após a homologação, o conteúdo de suas denúncias precisam ser apuradas pela Polícia Federal para que haja consequências judiciais, como a eventual abertura de inquéritos ou instauração de ações penais.
A despeito disso, a notícia de que Delcídio teria envolvido na Lava-Jato a cúpula do PMDB e o mais proeminente dos tucanos teve forte repercussão no Congresso. Nos bastidores, a cassação do ex-líder do governo é dada como certa, já que não há mais o mínimo amparo da oposição e da base governista. Enquanto esteve preso, acusado de tentar atrapalhar as investigações, Delcídio fez ameaças veladas aos demais senadores.
– Se me cassarem, levo metade do Senado comigo – disse a interlocutores.
Tão logo deixou a cadeia, já tendo aceitado colaborar com as investigações, tentou apaziguar o rancor dos colegas enviando uma carta aos 80 senadores, na qual classifica as notícias sobre a ameaça de "falsas e delirantes". Em licença médica de 15 dias, Delcídio ainda não retornou ao Senado desde quefoi solto por decisão do STF.
Contrapontos
De acordo com a Folha, a assessoria de Aécio Neves afirmou que não iria comentar a citação pela falta de "informação concreta" sobre o envolvimento do senador com Delcídio. Ao jornal O Globo, Renan sustentou que “nunca autorizou, credenciou ou consentiu que seu nome fosse utilizado por terceiros”.
A assessoria de Jucá informou que ele não comenta citações em documentos aos quais não tem acesso. Raupp negou envolvimento em crimes.
– Os delatores estão ficando louco, falam qualquer coisa para sair da cadeia. Se falou meu nome para além das relações no Congresso, mentiu – disse ao O Globo.
Já advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, admitiu que conhecia a citação.
– Até agora, todas as citações nas delações não o incriminam. Citam o nome dele, imputando conversas sobre campanhas eleitorais. Não vejo imputação de crime nisso – afirmou Castro.
Procurado pelos repórteres dos dois jornais, a defesa de Delcídio voltou a negar o conteúdo da delação.
– Não reconhecemos nenhum documento que está sendo divulgado – afirmou o advogado Antonio Figueiredo Basto.
As acusação da Lava-Jato contra os senadores
Aécio Neves (PSDB-MG)
Citado três vezes na Lava-Jato, o senador Aécio Neves já teve duas acusações arquivadas pelo STF. O primeiro a envolver o tucano foi o doleiro Alberto Youssef. Em seguida, Carlos Alexandre de Souza, o Ceará, encarregado por Youssef de entregar propinas, também disse que Aécio era um dos destinatários do dinheiro. Para o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo, não havia consistência nas afirmações. Na denúncia mais recente, em fevereiro o lobista Fernando de Moura disse à Justiça que Aécio receberia um terço dos recursos desviados de Furnas.
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Alvo de seis inquéritos da Lava-Jato, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) já foi citado por vários delatores da operação. Renan receberia propina por contratos fechados na Diretoria de Abastecimento da Petrobras, na Transpetro e na Eletronuclear. De acordo com o ex-diretor Paulo Roberto Costa, os pagamentos a Renan seriam superiores aos repassados aos demais políticos do esquema. O dinheiro desviado das estatais também seria destinado a financiar as campanhas eleitorais do grupo político do senador.
Edison Lobão (PMDB-MA)
Ex-ministro das Minas e Energia nos governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) é suspeito de pedir R$ 1 milhão a Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras. O suborno teria sido cobrado para favorecer o consórcio da UTC Engenharia nas obras da usina de Angra 3. O ex-diretor financeiro da empresa, Walmir Pinheiro, confirmou o pagamento e disse a entrega era feita a uma pessoa apresentada por Lobão, sendo que parte do dinheiro era levada de carro de São Paulo a Brasília.
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Três delatores da Lava-Jato já citaram o envolvimento do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) nos desvios da Petrobras. Paulo Roberto Costa, o operador Fernando Baiano e o doleiro Alberto Youssef afirmam que ele teria recebido pelo menos R$ 500 mil para a campanha ao Senado em 2010. O dinheiro teria sido solicitado por Baiano a Costa. Youssef teria sido o operador do pagamento. O valor teria saído da cota do PP, decorrente de sobrepreços em contratos da Petrobras.
Romero Jucá (PMDB-RR)
O doleiro Alberto Youssef e o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, disseram em delação premiada que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) recebeu R$ 1,5 milhão desviados da Petrobras. O dinheiro foi pago em três prestações de R$ 500 mil e destinado ao financiamento de campanhas eleitorais em Roraima. Pessoa disse que o pagamento estava relacionado à contratação da UTC para obras da Eletronuclear na usina Angra 3. Jucá admitiu à Polícia Federal ter pedido o dinheiro, mas que foram doações legais.