Os acordes de Arlandria, da banda americana Foo Fighters, ressoavam nos fones de ouvido do estudante Marcelo*, 17 anos, quando um homem se aproximou. De moletom cinza e bermuda escura, tirou as mãos dos bolsos e apontou uma faca em direção ao pescoço do estudante – que estava a uma quadra da Escola Estadual Presidente Roosevelt, onde cursa o 2º ano do Ensino Médio.
Marcelo reagiu e foi esfaqueado – a lâmina abriu um corte profundo na coxa direita e, de raspão, riscou por cerca de 20 centímetros a região das costelas. Atendido no Hospital de Pronto Socorro, Marcelo foi liberado ainda pela manhã. À tarde, antes de prestar depoimento à Polícia Civil, acompanhado da mãe, conversou com Zero Hora na condição de não ser identificado.
Como ocorreu a tentativa de assalto?
Eu vinha pela (Rua) Vicente Lopes Santos e dobrei na Botafogo. Vi que um cara vinha na minha direção, mas não achei que fosse assaltante. Ele estava com as mãos nos bolsos do moletom. Quando chegou perto, sem falar nada, encostou a faca perto da minha jugular.
Então você reagiu?
Sim, achei que ele ia cortar minha garganta, então o empurrei, dei um soco. Ele tentou pegar minha mochila, mas coloquei a outra alça atrás das costas. Nós brigamos, e acabamos os dois caindo no chão. Quando ele levantou, me deu a facada na perna. Ele tentou correr, fui atrás. Mas aí minha perna começou a doer muito e resolvi ir para a escola.
Não tinha ninguém com você?
Não, estava sozinho. Cheguei na escola e fui direto pro banheiro. Lá eu vi que minha perna estava sangrando muito, doía. Eu não ia contar nada, mas um colega meu chegou e viu que podia ser grave, então fomos até a direção.
Você já tinha visto o assaltante?
Não, nunca. Ele não parecia morador de rua, não estava mal vestido. Parecia um assaltante mesmo. Não sei como é a voz dele, porque ele não falou nada em nenhum momento. Parecia meio transtornado.
Quanto tempo durou o caso?
Não sei, não consigo lembrar direito, embaralho as coisas na minha cabeça. Nem consigo lembrar da cara dele direito, só sei que era negro, estava de moletom e bermuda. E parecia ter algo na cabeça, um capuz ou um boné. Foi tudo muito rápido.
Como está se sentindo agora?
Estou bem, podia ser pior. A perna dói bastante.
*Nome fictício para preservar a identidade do menino e em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)