Enquanto cumpria um dos 12 mandados de prisão preventiva da Operação Aquiles, deflagrada na madrugada de quarta-feira, a Polícia Civil encontrou um documento de quatro páginas, escrito à mão, em que está registrada uma espécie de estatuto de uma das quadrilhas que gerencia o tráfico de drogas, comanda homicídios e outros tipos de crimes de dentro de cadeias no Rio Grande do Sul.
Este documento, cujo texto já havia sido identificado em uma operação realizada no ano passado, detalha normas, obrigações e até possíveis punições para aqueles que, sob uma taxa de R$ 200 mensais, se associam ao grupo.
– Esta é uma das quatro quadrilhas que mais cresce em relação ao número de integrantes no Estado. Descobrimos a existência desse estatuto há cerca de dois anos, e no ano passado o identificamos pela primeira vez. Ele é nos moldes do regramento do PCC (Primeiro Comando da Capital, uma das maiores organizações criminosa do país, fundada em São Paulo) – explica o Chefe de Polícia, delegado Émerson Wendt, esteve presente no início da operação e solicitou que o nome da facção não fosse divulgado.
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Ainda segundo Wendt, a nova apreensão indica que o grupo buscou uma reorganização recente para seguir agindo de dentro das prisões. O documento foi encontrado em uma cela da Penitenciária Modulada de Charqueadas, ao lado de armas artesanais, drogas, uma balança de precisão e dinheiro. É nesta cela que foi cumprido o mandado de prisão do apenado Diego Menezes Rodrigues. Já condenado a 13 anos por tráfico, ele é, possivelmente, um dos líderes da quadrilha.
– O preso de Charqueadas comandava a venda de drogas em Osório sem nunca ter pisado na cidade. Apuramos também que ele dava ordens em Caxias – afirmou o delegado Alexandre Souza, da Delegacia de Osório.
Na primeira página do estatuto, datada de 20 de outubro de 2014, consta uma justificativa que o valor mensal pago pelos integrantes será revertido para propósitos da facção, como contratação de advogados, compra de armamentos, e assistência a familiares de presos.
A seguir, a declaração especifica: "O integrante que receber estes benefícios estará ciente que estará à disposição da facção para o que for preciso. Claro que se ele não quizer (quiser) compromisso com a facção na rua e (esta é) uma decisão que a facção respeita".
Sobre membros que forem encaminhados a presídios, o documento alerta: "o integrante que ir para o semi-aberto (semiaberto) e não quizer (quiser) fugir terá o apoio da facção desde que esteja segurando o espaço para os que venhão (venham) a chegar".
Os membros do grupo são incitados, ainda, a "demarcar" seu espaço – ou pedaço, como diz o texto – com o símbolo da facção gravada em muros ou paredes. Ao lado do nome da quadrilha, o grupo alerta para importância de que seja colocada uma sequência de números.
A incitação da violência também fica explícita em dois trechos, quando o documento afirma que "se algum inimigo tentar atingir ou derrubar um integrante ou aliado que esteja com a bandeira, deverá ter as mesmas respostas o mais rápido possível (...)", e alerta que "não será permitido (permitida) a traição de nenhum dos integrantes da facção que possa vir (a) atingir a facção".
Conforme Wendt, o documento, que é analisado pelo Gabinete de Inteligência da Polícia Civil, pode ajudar a polícia a entender de forma mais aprofundada como o grupo é organizado e a forma como atua.