O marqueteiro João Santana, preso há dois dias na 23ª fase da Operação Lava-Jato, afirmou à Polícia Federal, na manhã desta quinta-feira, que é dono da offshore Shellbill Finance SA, na Suíça, e que os valores recebidos em suas contas foram por serviços prestados a campanhas eleitorais no exterior, entre elas a de Angola e do Panamá. Ele confirmou ainda recebimentos da Odebrecht e do operador de propinas Zwi Skornicki, lobista do estaleiro Keppel Fels. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
– O mais importante de tudo é que eles admitiram erros – afirmou o criminalista Fábio Tofic Simantob, que defende Santana e a mulher, Mônica Moura, na saída da Superintendência da PF, em Curitiba. – Admitiram ter recebido recursos no exterior de conta não declarada.
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Ouvido cerca de três horas, Santana disse que abriu a conta ShellBill "em 1998 para receber recursos de uma campanha na Argentina e foi a forma como ele tinha para receber".
– Na época achava que não tinha problema, porque era recurso recebido em outros países. Ele achava que não tinha problema em ser conta não declarada – explicou Tofic.
A Lava-Jato aponta o recebimento de US$ 7,5 milhões, entre 2012 e 2014, nessa conta de dois investigados por corrupção na Petrobras, o Grupo Odebrecht e o operador de propinas do estaleiro Keppel Fels, Zwi Skornicki – também preso na Operação Acarajé.
Tofic explicou que foi em uma auditoria que Santana foi informado que "havia essa irregularidade" no uso da conta secreta e "estava pensando já em como regularizar esses recursos".
US$ 4,5 milhões
Tofic disse que os clientes detalharam à PF que os US$ 4,5 milhões repassados para a conta da Shellbill Finance, por meio de sua offshore do lobista Zwi Skornicki, a Deep Sea Oil, foi uma "doação a um partido Angolano".
Foi Mônica, ouvida na quarta-feira, que deu os detalhes sobre os valores. Tofic explicou que Santana cuidava mais da criação das campanhas e a mulher tinha mais conhecimento da parte financeira.
João Santana afirmou nunca ter visto Zwi, que o conheceu pela primeira vez na carceragem da PF, em Curitiba.
– Não tinha a menor ideia de que era operador do estaleiro.
US$ 3 milhões
Outros US$ 3 milhões foram pagos à conta Shellbill Finance por offshores que seria controladas pela Odebrecht, aponta a Lava-Jato. Segundo a defesa de Santana, Mônica "confirmou que houve de fato pagamentos feitos” pela empreiteira, "em relação a uma campanha no exterior”.
– O João não sabe disso. O João é um criador, não trabalha com a questão financeira, com questão bancária. Ele tinha pouco conhecimento de como eram feitos os pagamentos.
Campanha Dilma
– Em relação ao PT está tudo declarado ao TRE, não há nada a esconder – disse o advogado do marqueteiro do PT. O advogado disse que Santana explicou que o dinheiro recebido no exterior não tem relação com os recebimentos por campanhas eleitorais no Brasil. O marqueteiro fez as últimas três campanhas presidenciais do PT, Dilma Rousseff (2010 e 2014) e Luiz Inácio Lula da Silva (2006), e a do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (2012).
Segundo o criminalista, os clientes deixaram claro que nunca suspeitaram e "continuam acreditando, que nenhum desses recursos tem relação com crimes cometidos no Brasil ou fora do Brasil".
– A PF fez uma suposição grave de que isso se trata de dinheiro de propina no Brasil, de que eles saberiam que se trata de propina. Eles não tem como saber de onde vem o dinheiro que os paga lá fora – criticou Tofic. – Se eles soubessem, certamente se recusariam a receber.
Prisão
O criminalista diz acreditar agora que as prisões temporárias do marqueteiro do PT e sua mulher sejam revistas.
– O que sobrou são suposições. Você tem dois empresários honestos presos na sede da PF. Estão presos há dois dias com base em mera suposição. O que se espera agora é que, feitos os esclarecimentos, sejam revogadas as prisões.
O advogado afirmou que após os dois depoimentos “ficou claro que eles não têm nada a esconder”.