O impacto mais visível dos estragos causados pela tempestade na Capital atingiu uma das características que mais orgulha os porto-alegrenses: a arborização da cidade. Em centenas de ruas e parques, cerca de 3 mil árvores foram arrancadas ou tiveram seus galhos quebrados pela força do vento, segundo levantamento preliminar da prefeitura.
O número de árvores perdidas ou danificadas representa 0,2% do total de 1,3 milhão de unidades plantadas na cidade considerada uma das mais arborizadas entre as capitais brasileiras. Mesmo assim, os prejuízos ambientais causam preocupação.
FOTOS e VÍDEOS: os estragos em Porto Alegre registrados em imagens
Para especialistas, o impacto dessa perda se dará pela função que essas árvores deixarão de cumprir no ambiente, como equilíbrio térmico, purificação do ar, abrigo para animais e redução dos fluxos da chuva que escorrem na superfície.
– Isso sem contar a beleza e o efeito psicológico que a cobertura verde proporciona às pessoas – aponta o biólogo Paulo Brack, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para o especialista, as recentes mudanças climáticas deverão fazer com que se repense a arborização da cidade, com uma eventual substituição de árvores muito grandes.
– Esses eventos climáticos, que não estamos acostumados a ver, ficarão cada vez mais frequentes. Nessas condições, talvez o porte das árvores em grandes cidades tenha de ser ser revisto – considera Brack, acrescentando que a outra alternativa para a natureza conviver melhor com o meio urbano é a substituição da rede aérea de energia elétrica por linhas subterrâneas.
Feirantes da Redenção e fregueses contam prejuízos com temporal
Ao avaliar as árvores tipuanas caídas no famoso túnel verde da Rua Gonçalo de Carvalho, eleita uma das mais bonitas do mundo, o professor mostrou que a maioria delas estava com o tronco em bom estado, sem sinais de debilidade maior.
– O que causou a queda foi realmente a força dos ventos – completa.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Leonardo Melgarejo, a queda das árvores foi facilitada pela fragilidade da sua estrutura.
– Podas erradas geram apodrecimento das árvores, tornando-as mais frágeis diante de eventos climáticos – explica Melgarejo, acrescentando que solos muito compactados, com raízes superficiais, facilitam o tombamento.
Na avaliação de Melgarejo, os danos poderiam ter sido minimizados com programas de reflorestamento mais eficazes.
– É preciso um planejamento, simplesmente substituir árvores antigas por mais jovens não resolve a questão. É preciso respeitar cuidados básicos com a natureza – completa.