Jeniffer Gularte
De um lado, pelo menos mil trabalhadores em layoff, o que significa que estão com os contratos de trabalho suspensos temporariamente, em Gravataí, sem saber quando e se voltarão ao emprego. De outro, comerciantes e lojistas sentindo os reflexos da incerteza enfrentada por quem consome.
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Na General Motors (GM), são 825 pessoas paradas desde o dia 1º de dezembro. A previsão é de que o período se estenda até 30 de abril. Estima-se que em todo país, são 33 mil trabalhadores em regime de layoff, consequência da crise econômica que abalou as vendas de veículos no país. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), houve queda de 24% nas vendas de carros novos no ano passado, se comparado a 2014.
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Previsto em lei, o layoff pretende evitar demissões nas empresas que, ao adotar o mecanismo, reduzem custos ao deixar de pagar encargos e salários por até cinco meses.
<TITULO COLUNA 1>
"Estou em casa, mas estou tenso"
Em layoff desde o 1º de dezembro, o operador de produção do terceiro turno da GM de Gravataí Anderson Mello Maia, 25 anos, vive a agonia de um futuro sem perspectivas. Desde que começou a trabalhar, aos 16 anos, passou por três empresas e jamais ficou mais do que os 30 dias de férias em casa. Morador do Bairro São Vicente, também em Gravataí, ainda não havia sentido o sabor da incerteza em relação ao próprio emprego.
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- Estou há seis anos na GM. Não sabemos o que vai acontecer e a gente sabe que a crise não vai se resolver este ano. É muito ruim, porque não fomos nós que fizemos essa crise acontecer.
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Ele recebe Bolsa Qualificação - modalidade de seguro-desemprego bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (Fat) - e faz curso de atualização industrial no Senai pela manhã junto com outros colegas em layoff. O que gera mais apreensão é que, após o layoff, os funcionários podem ser demitidos, sem o direito a receber o seguro-desemprego. O clima entre a turma é um só:
- Não tem um colega que não esteja apavorado. E se formos demitidos, serão 825 trabalhadores procurando emprego. É muita gente. Eu tenho minha família e sou responsável por ela.
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A renda mensal da família de Anderson caiu de R$ 3 mil para R$ 2,4 mil. A redução de 20% tem provocado mudanças de hábitos para ele, a esposa, a dona de casa Geisa Laís Machado, 27 anos, e os três filhos: Paulo Henrique, 11 anos, Ane Caroline, seis anos, e Antônia, dez meses. Com carro e motocicleta na garagem, ele tem ido de bicicleta para o curso. A economia tem ajudado o casal a não fechar as contas no negativo.
- Antes conseguíamos guardar alguma coisinha, hoje o que ganho vai tudo, não sobra nada - diz Anderson que, pelo menos, não precisa pagar aluguel, pois tem casa própria.
Os passeios de final de semana foram cortados. Este ano também não teve a tradicional temporada de 15 dias na praia de Quintão. Do layoff, Anderson só vê o lado positivo de conseguir ficar mais perto da família. O resto é apenas indecisão:
- Estou em casa, mas estou naquela tensão, porque tu não sabe o dia de amanhã.