Cansados de esperar pelo governo do Estado, um grupo de aprovados em concurso público para Polícia Civil, Brigada Militar e Corpo de Bombeiros se reuniram para protestar, nesta quinta-feira, em Porto Alegre. Ao todo, 3 mil pessoas aguardam convocação desde o fim de 2014.
A manifestação ocorreu na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, com churrasco coletivo. Em faixas e cartazes estendidos nas árvores, a indignação resumiu-se em frases como "economizar na segurança custa vidas" e "enquanto Sartori navega no Caribe, a população fica à deriva", em referência às férias do governador José Ivo Sartori, gozadas em um cruzeiro pelo mar caribenho.
– Nosso objetivo é chamar a atenção para a necessidade de chamar os aprovados imediatamente. A situação é gravíssima. Nunca a segurança pública viveu uma crise tão grande no Estado. Sem isso, não tem como superar o problema – adverte o vice-presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do RS (Ugeirm-Sindicato), Fábio Castro.
Para atuar como agentes da Polícia Civil, segundo Castro, são 661 pessoas à espera de chamamento – sendo que existem 72 delegacias de polícia, conforme a entidade, com apenas um escrivão ou inspetor e outras 144 DPs com dois.
O número de aprovados nem de perto será suficiente para resolver a crise, mas, na avaliação do sindicalista, ajudaria a amenizar a sensação de insegurança que se alastra pelo Estado.
– Em 2015, tivemos 490 baixas, entre aposentadorias, mortes, exonerações e demissões. Só isso já comprova a necessidade de convocação. Não protestamos simplesmente para conseguir emprego, mas pela falta de segurança também. Chegamos ao limite – diz André Gonçalves, 30 anos, um dos selecionados que se juntou ao protesto.
Além dos 661 aprovados para atuar na Polícia Civil, há outros 2,5 mil na expectativa por vagas no Corpo de Bombeiros (571) e na Brigada Militar (1,9 mil). Todos precisam passar por cursos preparatórios antes de começar a trabalhar, o que leva pelo menos seis meses.
O presidente da Associação de Bombeiros do Estado (Abergs), Ubirajara Ramos, afirma que 200 integrantes do Corpo de Bombeiros se aposentaram desde 2015 e não foram substituídos. Ele também reclama que, desde julho de 2014, após a separação formal da BM, três leis para regulamentar a atuação dos socorristas estão "paradas" no governo, à espera de andamento.
– Falta gente, falta estrutura, faltam viaturas. A emissão e fiscalização de alvarás está prejudicada, assim como o combate a incêndios. São 400 municípios que sequer têm bombeiros – alerta Ramos.
Na BM, não é diferente. O presidente da Associação dos Cabos e Soldados da BM (Abamf), Leonel Lucas, lembra que, por lei, o efetivo da corporação deveria ser de 36 mil PMs. Hoje, conforme o Comando da BM, são 21 mil.
– Só em 2015, tivemos 2,1 mil aposentados. Sem recursos humanos, não temos como fazer frente à insegurança – sintetiza Lucas.
Em entrevista a ZH no início do ano, José Ivo Sartori disse que avalia a possibilidade de convocação, mas que a falta de recursos do Estado é um empecilho.
– Nós estamos estudando isso com tranquilidade e serenidade, avaliando o quadro. Mais cedo ou mais tarde, isso terá que ser feito. Agora, é evidente que isso precisa de condições. Como é que eu vou colocar alguém pra trabalhar aqui se eu não consigo pagar quem está em atividade? – questionou o governador à época.