O cenário de complicações enfrentado por algumas empresas mineradores do Sul de Santa Catarina ganha um elemento a mais em 2016 com a previsão de redução no uso de termelétricas para produzir energia no Brasil. O novo planejamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), divulgado em dezembro, deve acarretar em uma redução de 20% no consumo do carvão catarinense, de acordo com o Sindicato da Indústria de Extração do Carvão do Estado de Santa Catarina (Siecesc).
- De certa forma, já era esperada porque está havendo um decréscimo de demanda perto de 1,5%. E está entrando quase 10 GW de energia nova no sistema, de grandes hidrelétricas como Jirau e Belo Monte - explica Fernando Zancan, diretor executivo do Siecesc.
O orçamento previsto para a Conta de Desenvolvimento Energético em 2016 é de R$ 18,437 bilhões. O valor representa redução de R$ 6,809 bilhões em relação aos R$ 25,246 bilhões de 2015, a maior parte na baixa da operação das usinas termelétricas.
O ano passado teve seu início marcado por poucas chuvas e reservatórios com baixos volumes, em especial na região Sudeste. Com os níveis se normalizando, o setor volta a sua normalidade e a necessidade de carvão reduz.
Nos últimos quatro anos, em função dessa falta de água, a geração termelétrica foi mais alta e a média anual do carvão consumido nas Usinas de Jorge Lacerda, foi de 3,2 milhões de toneladas ano. Para 2016, o volume de consumo na estrutura, localizada no município de Capivari de Baixo, Sul de Santa Catarina, deve voltar a ser de 2,4 milhões de toneladas.
Na avaliação da Câmara de Assuntos de Energia da Federação das Indústrias de Santa Catarina, em uma visão imediatista, a mudança é positiva porque deve ajudar a reduzir o preço da energia. A luz produzida pelas hidrelétricas é mais barata do que a advinda das usinas térmicas. Porém, em uma perspectiva mais de longo prazo, poderia ser interessante manter a geração termelétrica por mais tempo até garantir níveis excelentes nos reservatórios.
O sistema hidrelétrico poderia, com isso, reduzir parte da sua produção para acumular mais água e ter segurança no longo prazo, em especial as hidrelétricas das regiões Sudeste e Nordeste. As regiões ainda são as mais afetadas pelo baixo nível das reservas.
- Eles poderão ser necessários mais para frente. Mais dia menos dia, a crise será superada e a demanda de energia vai voltar a crescer - disse Otmar Josef Müller, presidente da Câmara de Assuntos de Energia.
A produção nos últimos anos, pela necessidade de emissão termelétrica, para compensar também o crescimento de demanda, tinha levado a produção a um pico de quase 260 mil toneladas por mês, em 2015, mas neste ano deve cair gradualmente até perto de 210 mil toneladas.
O Sul e o carvão
A indústria carbonífera foi a base do desenvolvimento socioeconômico do Sul de Santa Catarina. A atividade envolve, atualmente, as cidades de Criciúma, Içara, Forquilhinha, Siderópolis, Lauro Müller, Urussanga, Cocal do Sul e Treviso, sendo a principal fonte de arrecadação de alguns municípios da região.
Já teve picos ao longo da história mas, em especial na década de 90, sua falta de crescimento impactou no desenvolvimento das cidades da região Sul. Desde então, uma diversificação de ramos de atividade que envolveu aumento de importância da produção de arroz, da criação de suínos e do setor de serviços ajudou a diminuir a dependência, apesar de ainda ser a principal atividade econômica regional. No caso do município de Lauro Müller, por exemplo, responde por 25% da arrecadação pública.
O segmento gerava até 2015 cerca de 4.400 empregos diretos em 11 minas em atividade. Mas o setor vende 98% de sua produção para a Tractebel Energia e a empresa mudou suas regras de fornecedores e parou de adquirir a produção de quatro mineradoras: Carbonífera Criciúma, Comin & Cia, Cooperminas e Minageo.
- Essa diminuição de demanda vai ser gradativa e deve baixar até junho. As mineradoras estavam trazendo do Rio Grande do Sul o excesso acima de 200 mil toneladas mês. Então entendemos que não precisa haver nenhuma demissão para cumprir essa demanda - diz Leonor Rampinelli, secretário do sindicato dos mineiros de Siderópolis, Cocal do Sul e Treviso.
Ele acredita que, como as outras mineradoras que seguem com contratos terão que suprir a produção das que saíram do negócio, os mineradores devem ser contratados por essas companhias para conseguir manter o nível de produção. Devido à lei Nº 10.438, de 26 de abril de 2002, a fornecedora de energia que detém a concessão é obrigada a comprar mensalmente 200 mil toneladas do carvão para garantir uma movimentação econômica mínima para o setor.