Embora pareça um tiro no pé se posicionar pela continuidade do processo de cassação contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – pois isso levaria inevitavelmente o presidente da Câmara a deflagrar o processo de impeachment contra Dilma –, há pelo menos três hipóteses que podem explicar essa decisão da bancada do PT no Conselho de Ética:
1) A pecha de partido corrupto está destruindo eleitoralmente o PT
Grandes nomes da sigla estão condenados na Justiça – alguns deles cumprindo pena atrás das grades. O cerco ao seu principal líder, o ex-presidente Lula, reforça a sensação de que nada mais restará vivo em 2018. Deputado depende de voto e deverá ser cobrado pelo eleitor por não ter se posicionado claramente em relação a um político atolado em denúncias. Neste caso, o pragmatismo falou mais alto.
2) O relacionamento com a presidente Dilma Rousseff está deteriorado
A falta de sintonia entre o Planalto e a base governista no Congresso vem desde o início do segundo mandato, provocando inúmeras derrotas ao governo. A começar pela estratégia errada de colocar um candidato do partido para disputar com Cunha a presidência da Câmara no início do ano. Até as paredes do Congresso sabiam que Cunha tinha maioria e venceria. E que se vingaria por essa traição do PT. Faltou habilidade.
3) O Planalto sabia que mais cedo ou mais tarde Cunha daria prosseguimento ao pedido de impeachment
Nesse cenário, era questão de aguardar pelo melhor momento. Ciente disso, a bancada do PT – articulada ou não com o Planalto – decidiu se posicionar a favor da cassação de Cunha, forçando-o a se antecipar na decisão de dar encaminhamento ao pedido de impeachment. Não restariam dúvidas de que Cunha fora movido pela vingança. Uma estratégia arriscada, cujo desfecho ninguém sabe.