Em uma conjuntura de baixo crescimento econômico, como a vivida atualmente no Brasil, quais são os grupos sociais mais afetados no mercado de trabalho? A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2014, uma série de análises de profissionais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma delas levando em conta indicadores de gênero e raça, mostra que as mulheres e homens negros formam a maior parcela da população desempregada no país.
Conforme análise do Ipea, em 2014, o Brasil possuía 2,4 milhões de mulheres negras desocupadas contra 1,2 milhão de homens brancos desempregados. Além do menor índice de empregos formais, os rendimentos também são diferentes: apesar de as distâncias terem diminuído desde 2004, os homens brancos ainda recebem, em média, rendimentos 60% superiores aos das mulheres negras.
Os dados levam em conta o salário na totalidade dos empregos, não apontando se há diferença salarial quando os cargos ocupados são os mesmos.
Tal discrepância entre emprego e renda conforme a raça é observada apesar de a desigualdade, medida pelo índice de Gini, vir registrando sucessivas quedas há uma década. O índice recuou de 0,495 em 2013 para 0,490 em 2014 (quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a distribuição da renda). Os motivos para a queda englobam tanto o aumento de renda entre os mais pobres quanto a diminuição nos rendimentos dos mais ricos.
A análise do Ipea aponta também que o aumento do desemprego impactou mais profundamente o grupo de mulheres e homens negros que o de brancos: o primeiro grupo representou 60,3% de todo o aumento de desemprego gerado entre 2013 e 2014 - sendo. portanto, uma parcela da população mais vulnerável ao desemprego. No ano passado, o percentual de empregados com carteira assinada apresentou queda no país pela primeira vez em 10 anos.
Erro grave interferiu em dados de 2013
Na Pnad de 2013, divulgada no ano passado, um equívoco no cálculo provocou erros em alguns dos resultados da pesquisa, incluindo o índice de Gini (que calcula o nível de desigualdade no país), rendimento médio do trabalhador e número de pessoas ocupadas no país.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou inicialmente que o índice de Gini havia crescido de 0,496 em 2012 para 0,498 em 2013 - indicando um pequeno aumento na desigualdade. O indicador foi posteriormente corrigido para refletir, na verdade, uma queda: indo de 0,496 para 0,495.
* Zero Hora