Explosões e tiroteios foram ouvidos pelo casal de brasileiros René Schmidt e Silvia Campana por volta das 7h30min (horário local) desta quarta-feira em Saint-Denis, ao norte de Paris. Acompanhando o noticiário desde a madrugada, alertados sobre um telefonema preocupado do Brasil, eles já sabiam que a polícia fazia uma caçada aos autores dos atentados que mataram 129 pessoas na última sexta-feira. E nem por isso deixaram de sentir medo.
- Foi assustador, porque foi perto de casa, numa rua que a gente conhece. Minha esposa comentou comigo: "Parece que estamos em Bagdá". Claro que é um exagero, mas ela disse porque foi chocante - comenta Schmidt.
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A operação policial durou cerca de sete horas e terminou com dois mortos e sete presos. Uma mulher, que detonou explosivos presos ao corpo, e um jihadista morreram na ação em um prédio a 500 metros da casa de Schmidt e Silvia.
- Só não sentimos mais medo porque tinha muita, muita, muita polícia. E porque, comparado à sexta-feira, o que aconteceu hoje não é nada - compara o urbanista.
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Historiadora mineira, Silvia, 36 anos, é vereadora de Saint-Denis há mais de um ano e foi para a prefeitura assim que a situação se acalmou. Para lá, também foram levadas as pessoas que foram evacuadas de suas casas ou aquelas que não puderam retornar para onde moram.
Natural de Cruz Alta, no noroeste gaúcho, Schmidt tem 35 anos e vive há 17 na França. Por isso, lembra que não é a primeira vez que o país é ameaçado por terroristas, mas observa que há uma mudança nos ataques. A principal delas é a explosão de homens-bomba.
- A gente sente um medo que não é de perigo imediato, como se fosse uma arma apontada para a cabeça como num assalto. É mais medo da violência, do que ainda pode acontecer - observa o gaúcho.
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Sem sair de casa o dia todo, Schmidt conta que ficou em casa para cuidar da filha Hannah, de um ano e sete meses, já que a escola que ela frequenta foi fechada. Também cancelou uma reunião porque teria de contornar a cidade para chegar ao local combinado, além de ter de pegar transporte público, algo que tem sido evitado pelos moradores.
Considerado um caldeirão étnico, com mais de 140 nacionalidades, Saint-Denis abriga uma grande comunidade muçulmana entre seus 100 mil habitantes. E isso tem sido uma preocupação constante nas conversas do casal brasileiro.
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- Existe o islamismo radical, sim, mas a grande maioria dos muçulmanos só quer viver sua vida tranquilamente, são pessoas do bem. Existe uma estigmatização desse povo, e isso tende a aumentar. A polícia já para eles na rua e vai parar ainda mais. Já há notícias de mesquitas pichadas, de pessoas agredidas sem sequer saber se são mesmo muçulmanas. Temos muito medo de que transformem qualquer muçulmano em inimigo - afirma Schmidt.
Ele lembra que a cidade é uma das mais pobres e com maiores níveis de criminalidade localizadas no entorno de Paris:
- Tem criminalidade porque tem pobreza, e não porque tem muitos muçulmanos aqui. É isso que as pessoas não podem confundir - destaca.