Descrentes com as promessas da prefeitura que se arrastam há cinco anos, os moradores do Condomínio Ipe 2, no Jardim Carvalho, em Porto Alegre, sabem que está longe a solução para o fim de uma cratera com 5m de largura e 4m de profundidade, entre três galerias nas ruas Andorinha e Gralha Azul. A cada nova enxurrada, a água jorra com força do buraco transformando em rio pelo menos cem casas de dez vias.
- Basta o tempo fechar para eu entrar em pânico. Da janela da sala, acompanho o transbordamento que ocorre em segundos. É desesperador - relata a comerciária aposentada Maria de Lurdes Amaral, 61 anos, vizinha da cratera.
Na tentativa de evitar que a água entre na casa, ela amarra uma chapa de metal nas grades do portão. Moradora do bairro há 45 anos, a aposentada evita receber visitas em dias nublados ou chuvosos.
- Tenho vergonha porque não quero que as pessoas de fora enfrentem o que passamos aqui - relata Maria de Lurdes.
O Diário Gaúcho acompanha desde 2010 os problemas dos moradores do Ipe 2. No ano passado, havia a promessa do Dep de solucionar a questão até o final de 2015, realizando uma obra de macrodrenagem no valor de R$ 2,7 milhões.
Isso foi por água abaixo em reunião recente do órgão com representantes da região.
- Rejeitamos o projeto de obra de canalização oferecido por uma das construtoras responsáveis por empreendimentos imobiliários na região. A proposta deles era construir uma galeria nova ao lado da velha, mas isso é impossível. O correto é ampliar a velha. O projeto precisará ser revisado e isso levará mais tempo - explica o diretor-geral, Tarso Boelter.
Novo edital
Segundo Tarso, será aberto um pregão eletrônico para contratar a empresa técnica que fará a revisão do projeto. A escolha será divulgada em 45 dias. Depois, a empresa escolhida terá 60 dias para apresentar novo plano. Se aprovado pelo Dep, poderá ser publicado novo edital para a obra.
- Pelos nossos cálculos, a obra será muito maior e o valor deverá chegar a quase R$ 6 milhões. Não é possível prever o início da obra. Por enquanto, temos uma equipe permanentemente em alerta para a região quando chove - conta o diretor-geral.
Cuidados para evitar prejuízos
Enquanto a situação não se resolve, Maria de Lurdes e os outros moradores do Condomínio Ipe 2 se protegem como podem da enxurrada: se há promessa de chuva, cancelam compromissos e não saem de casa.
Também retiram carros para áreas mais altas, montam barricadas nas portas das casas e evitam visitas.
- Nos tornamos escravos da cratera. Quando ouço o barulho da galeria se transformando no som de uma cachoeira, já sei que teremos alagamento - resume a aposentada.
O que precisa ser feito
- Ampliação da galeria da Rua Flamingo de 1,20m x 1,20m para 2m x 1,50m.
- Complementação de 198m de galeria das ruas Andorinha e Uirapuru, com tamanho de 3,50m x 1,50m.
- Ampliação para o dobro de tamanho a galeria existente na Rua Andorinha, que tem 2m x 1,50m.
- Limpeza geral das redes secundárias e criação de mais bocas de lobo nas ruas Andorinha e Gralha Azul.
Problema que se arrasta há cinco anos
- Os problemas nas duas ruas começaram em 2010, quando parte da galeria, que ficava sobre uma praça, se rompeu após chuvaradas.
- Acordo do Ministério Público, Dep e uma construtora de um dos empreendimentos da região determinou que a última ampliasse as galerias pluviais.
- No início do ano passado, após a decisão de suspender a licitação da obra, o Dep determinou serviços emergenciais no bairro.
- O projeto da construtora foi apresentado neste ano e rejeitado pelo Dep. A prefeitura exige ampliação da galeria existente. O projeto falava em construir uma nova.