Preocupados com a possibilidade de enfraquecimento da tese do impeachment da presidente Dilma Rousseff, diante dos indícios de que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está afundado até o pescoço no pântano da Lava-Jato, os antigos aliados passaram a sugerir sua renúncia com o argumento de que seria uma saída honrosa. Não existe saída honrosa para quem movimentou milhões de dólares em contas secretas no Exterior, sem declará-las ao fisco e à Justiça Eleitoral.
Dinheiro atribuído a Cunha circulou por 23 contas em 4 países, segundo MP da Suíça
Honroso para a Câmara seria os deputados afastarem Cunha por quebra de decoro. Além de não explicar a origem do dinheiro, que um dos delatores diz que é propina pela intermediação de negócios escusos na Petrobras, Cunha mentiu a seus pares. Mentiu na CPI, quando disse que não tinha contas no Exterior e saiu aplaudido, com direito a manifestações de bajuladores que o trataram como herói, apesar de conhecerem muito bem a sua truculência, suas ideias retrógradas e seus métodos de atuação. Como servia à oposição no propósito de enfraquecer a presidente da República, tornou-se o aliado perfeito, mesmo agindo contra o país ao colocar em votação a chamada pauta-bomba.
Denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, adotou o discurso da vitimização, acusando o Ministério Público Federal de estar a serviço do Planalto. A oposição foi leniente até depois do surgimento da informação sobre as contas na Suíça. Seus principais líderes diziam que era preciso dar ao presidente da Câmara o benefício da dúvida, mas aí apareceram as digitais na abertura das contas e os detalhes de como o dinheiro transitou, e o mundo de Cunha começou a ruir.
Eduardo Cunha diz que não tem intenção de renunciar
Passado o feriado de Nossa Senhora Aparecida, é provável que ele dê o sinal verde para começar a andar um dos pedidos de impeachment de Dilma, mas o processo nascerá contaminado pelas suspeitas que recaem sobre o ex-todo-poderoso presidente da Câmara. Isso não significa que Dilma será poupada, mas a legitimidade estará comprometida.
Líderes da oposição pedem afastamento de Cunha após denúncias
É injusto com os procuradores do MPF e com a Polícia Federal dizer que nada fizeram e que o crédito por desmascarar Cunha é do Ministério Público da Suíça. Ora, a Suíça só repassou os dados porque existe um acordo recente de troca de informações. Em outras palavras, os procuradores brasileiros "procuraram" dinheiro escondido na Suíça. E apareceu, como apareceram as contas de outros investigados na Lava-Jato. Este é um avanço que precisa ser celebrado.
Quem são os personagens que ditam o ritmo em Brasília
Não se pode cobrar do juiz Sergio Moro o que está fora da sua alçada: Cunha tem foro privilegiado e não pode ser tratado como José Dirceu, os empreiteiros e os operadores presos no Paraná. É a lei, e está sendo cumprida.
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Contas na Suíça
Rosane de Oliveira: renúncia não é saída honrosa para Cunha
Afastamento de deputado pelos colegas seria honroso para a Câmara
Rosane de Oliveira
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