Na próxima terça-feira (26), a Diocese de Caxias do Sul irá promover um encontro de formação sobre a Campanha da Fraternidade de 2025. O evento vai acontecer das 19h30min às 21h, no Teatro do Colégio Murialdo, no Centro, e contará com a presença do padre Jean Poul Hansen, secretário-executivo do setor de campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A atividade será aberta e gratuita ao público interessado em participar.
Iniciativa anual promovida pela CNBB, a Campanha da Fraternidade do ano que vem terá como tema "Fraternidade e Ecologia Integral". O lema foi retirado do livro de Gênesis capítulo 1 versículo 31, "Deus viu que tudo era muito bom". A ecologia é a questão mais tratada pelas Campanhas da Fraternidade desde 1964. Em 61 anos de existência, será a nona vez – a primeira foi em 1979 (as outras edições foram em 1986, 2002, 2004, 2007, 2011, 2016 e 2017).
Natural de Minas Gerais, o padre Jean Poul Hansen possui uma extensa bagagem acadêmica, incluindo um mestrado em Teologia Dogmática pela Universidade Pontifícia de Salamanca, na Espanha, e especializações em Origens do Cristianismo. Ele concedeu entrevista ao Pioneiro, destacando as perspectivas sobre a Campanha da Fraternidade de 2025, traçando um panorama sobre o tema com as situações climáticas vivenciadas pelo Rio Grande do Sul em 2024.
Confira a entrevista completa:
O que é a ecologia integral?
Ao longo do tempo, nós já tivemos diversas abordagens do conceito de ecologia. Contudo, o Papa Francisco na Laudato si' (carta encíclica), inaugura, de certa forma, este conceito de ecologia integral, que abrange todas as dimensões da ecologia. Então, na Campanha da Fraternidade de 2025 nós vamos tratar de ecologia, mas não somente da ecologia verde ou ambiental. Nós vamos tratar da ecologia integral, ou seja, de toda a casa comum, com todos os habitantes e todas as relações que travam entre si. É pensar na vida como um todo, do ser humano, das criaturas, e toda a vida que acontece na terra.
A Campanha da Fraternidade de 2025 busca um olhar aprofundado para as crises climáticas?
Sem dúvida. As crises climáticas são uma motivação que demonstra a urgência desse tema. Elas são o resultado da nossa relação desordenada com o planeta. Como a Campanha da Fraternidade é um projeto de conversão, nós queremos, a partir desse tema, propor a conversão dos seres humanos na sua relação com a casa comum, na medida do possível, para mudarmos essa nossa relação e evitarmos ou mitigarmos a continuidade dessas catástrofes climáticas.
Neste ano vivenciamos as queimadas no Brasil, que chegaram a impactar a qualidade do ar em Caxias e em todo o Rio Grande do Sul. É preciso urgência de mudança dos nossos modos de vida?
Sem dúvida alguma. E as queimadas são uma prova de que somos nós os causadores dessas catástrofes. O fogo não pega espontaneamente. Se há queimadas, há alguém que ateou fogo. E somos nós, seres humanos, que precisamos de mudança nessa relação com a natureza.
Um dos objetivos da Campanha de 2025 será apoiar os atingidos por catástrofes naturais e as vítimas dos crimes ambientais em sua busca por reparação e justiça. Em 2024, vivenciamos isso com a enchente no RS. Como é esse apoio na prática?
A campanha quer reforçar essa atitude, que é permanente na igreja. Se nós olharmos para as catástrofes que o Rio Grande do Sul enfrentou, nós perceberemos a importância da presença fraterna e solidária da igreja desde o início das enchentes até a reconstrução da vida das pessoas atingidas por essa catástrofe. A igreja está sempre presente do lado das pessoas. Porém, a Campanha da Fraternidade incentiva que essa presença seja permanente, e não apenas na hora da catástrofe. No Rio Grande do Sul, isso já tem acontecido. A igreja continua ativa ao lado das vítimas das catástrofes ambientais. Em outras realidades, quando falamos de crimes ambientais, temos que ter claro o posicionamento da igreja ao lado das vítimas, como as tragédias de Mariana e de Brumadinho, por exemplo.
De acordo com o texto-base, “vivemos uma crise que envolve tanto a vida social como o meio ambiente. Ela tem raízes históricas. As comunidades tradicionais são as que mais sofrem com essa crise, mas também são as que mais têm a nos ensinar. Entretanto, existem pessoas que insistem em negar a existência dessa crise, dificultando, assim, a sua superação.” Esse termo se refere ao negacionismo?
Nós evitamos utilizar a palavra “negacionismo” no texto-base, porque a intenção da Campanha da Fraternidade não é, em momento algum, reforçar a polarização política, quase que cultural, presente no Brasil. Mas não há dúvida de que há pessoas que até hoje não acreditam na crise climática e no aquecimento global. Há pessoas que, até com fundamento religioso, defendem que o que está acontecendo é vontade de Deus. E isso não ajuda em nada. As comunidades tradicionais são as que mais sofrem as consequências, e a maioria delas são comunidades empobrecidas. Mas são essas comunidades que nos ensinam como devemos nos relacionar com as águas, com as florestas e com a lavoura de modo sustentável, por exemplo.
E como podemos fortalecer a fraternidade e a solidariedade nas comunidades?
Reconhecendo aquilo que a Campanha da Fraternidade de 2024 nos lembrava: somos todos irmãos porque somos filhos do mesmo pai, mas também porque habitamos a mesma casa comum. Quando nós não cuidamos da casa, que é de toda a humanidade, nós pecamos contra a fraternidade. Eu preciso cuidar dela por aqueles que já a habitam, mas eu preciso cuidar dela também em vista das futuras gerações, porque a nós foi dada uma casa comum, um planeta. O que nós deixaremos de legado às futuras gerações? Um planeta habitável ou um planeta destruído?