O vendedor André Luiz da Costa, 55 anos, nunca se descuidou da saúde. Além de checkups anuais regulares, desde os 45 anos, procurou atendimento de urologistas para prevenir o câncer de próstata.
- Fui ao posto de saúde no bairro onde morava, em Porto Alegre, e pedi encaminhamento ao urologista. Fui encaminhado para o Hospital de Clínicas. Chegando lá, vi que a maioria dos pacientes era idoso. Foi quando me explicaram que a prevenção era para "pessoas mais velhas". Ainda assim, como eu já estava lá, fiz exame de sangue, o PSA (sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico, um indicador de células anormais) e o de toque retal. Graças a Deus, não apareceu nada, mas, desde então, segui fazendo o PSA anualmente - conta Costa.
Mas nem todo o cuidado investido na prevenção impediu que ele desenvolvesse um tumor. No ano passado, já morando em Santa Maria, o vendedor teve de se submeter a uma cirurgia para a retirada da glândula.
Integrante do aparelho reprodutor masculino, a próstata se localiza abaixo da bexiga, tem a função de, juntamente com as vesículas seminais, produzir o esperma. A glândula normalmente começa a aumentar de tamanho a partir dos 40 anos - crescimento que pode ser confundido com o causado pelo câncer, quando células mutantes se multiplicam de forma desordenada.
Um a cada seis homens é portador da doença
O de próstata é o tipo de câncer mais frequente no sexo masculino, superado apenas pelo de pele. Estatísticas apontam que a cada seis homens, um é portador da doença. A estimativa é que, em 2015, cerca de 68 mil novos casos sejam diagnosticados. Isto é, a descoberta de um caso a cada 7,6 minutos. Em 2011, para se ter uma ideia, houve um óbito a cada 40 minutos, por câncer de próstata.
É por isso que a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que homens a partir de 50 anos consultem o urologista para fazer exames preventivos, como o PSA. E o mês de novembro é dedicado a chamar a atenção para essa e outras questões da saúde do
homem, naquele que é chamado de "Novembro Azul".
A intenção da iniciativa é esclarecer fatores de risco e diminuir o preconceito que envolve o exame de toque retal, que pode diagnosticar o aumento da glândula. O exame, porém, não é obrigatório, como explica o urologista santa-mariense Flávio Brum.
- Antigamente, a gente dizia "tem que fazer exame de próstata". Hoje, não. Sabemos pelo PSA a quem devemos rastrear, em quem fazer biópsias e até em quem não devemos fazer cirurgias em caso de câncer. A retirada não é recomendada em todos os casos. Se a pessoa tem 80 anos, uma biópsia pode causar complicações sérias, como infecções. Hoje, o cuidado do urologista é com pessoas com predisposição, as que têm histórico familiar da doença, marcador de PSA e, até, de certas etnias, como a negra. Mas tudo é discutido, nada é imposto - garante.
Predisposição é sinal de alerta
Casos como o de André Luiz da Costa estão entre os que chamam a atenção dos médicos, diz o urologista Flávio Brum. A tendência de surgimento de tumor apareceu em exame sanguíneo feito pelo vendedor aos 50 anos. Os anos seguintes foram de acompanhamento. No ano passado, exames de toque e biópsia identificaram a presença do inimigo, devidamente extraído no dia 17 de junho de 2014, junto com a glândula adoecida.
Costa disse que o temor dos possíveis efeitos colaterais, como impotência sexual e incontinência urinária, assustaram, mas ele queria viver:
- Sou casado, tenho seis filhos, oito netos. Todos ficaram ao meu lado. Fiz radioterapia, quimioterapia, mais de 30 sessões. É uma lição para quem vê gente com diversos tipos de doença no hospital. É dali que a gente vê que a a vida tem valor. Quem me conhece e não sabe que eu passei por um tumor não acredita, e quem conhece, fica maravilhado. Minha vida praticamente não mudou - resume.
Fé e gratidão
A nova vida trouxe uma devoção a Nossa Senhora da Medianeira e a eterna gratidão ao médico que o atendeu, Flávio Brum. O aprendizado no processo de deter o câncer, ele espalha sem temor:
- Eu diria para uma pessoa que tem medo de ir no médico ou que, amanhã ou depois, tenha de se tratar para combater essa doença, que perca o preconceito e valorize a vida. Fazer um toque ou biopsia não te faz perder a hombridade. Pense na família, nos amigos e na própria vida. Isso mexe com a gente, eu sei, mas eu vou cuidar de mim porque eu quero ter um bom tempo junto com a minha família.
Médicos e pacientes discutem o tratamento
Segundo o urologista Flávio Brum, a campanha Novembro Azul, de conscientização sobre a importância dos exames preventivos à doença na próstata, já atingiu seu efeito:
- A campanha está estabelecida. Homens e mulheres já sabem a idade mínima para ir ao médico. Se o homem tem preconceito, a mulher ou o amigo aconselham. Nossa preocupação nem é mais o preconceito com o exame físico. A questão são os exames e o que fazer com o resultados deles.
Segundo o médico, em países como Nova Zelândia o exame de antígeno prostático (PSA) é encaminhado por clínicos gerais. Em países como a Suécia, 94% da população masculina já está mapeada em relação aos riscos da doença. No Brasil, não há uma rede de saúde que monitore esses marcadores genéticos e, na maioria dos casos, os pacientes já chegam ao urologista com exames alterados e encaminhamento de biópsia de outros especialistas.
- Eles chegam no urologista perguntando se devem fazer a biópsia. E, em cada 10, oito não precisam ser feitas. Cirurgias também podem ser substituídas por outras modalidades terapêuticas. O caminho é conversar com o paciente para definir os rumos a tomar no tratamento enquanto a ciência avança. Não há por que fazer um procedimento agressivo, colocando em risco a vida dele por algo que não traga vantagens. O paciente decide. Ele tem de "calçar o sapato" adequado - afirma Brum.
Próstata não é vilã
Estima-se que um a cada 34 pacientes com câncer de próstata morre. O número é significativo, mas não faz sombra aos de doenças cardiovasculares, maior causa de mortes masculinas no pais. Tanto que o Ministério da Saúde avalia reduzir ações relacionadas a próstata e à potência sexual, que merecem atenção individualizada, e aumentar o rastreamento dos homens, a partir de 35 anos, para problemas de pressão arterial.