Só agora que sua popularidade chegou ao fundo do poço e o Brasil começa a colher os frutos podres da irresponsabilidade fiscal, a presidente Dilma Rousseff chama seus ministros para definir cortes que devem ficar em pelo menos R$ 20 bilhões. O outro tanto que falta para fechar o orçamento de 2016 virá do aumento de impostos e contribuições que o ministro Joaquim Levy chama de "investimento". Um eufemismo para dizer que seremos chamados a pagar a conta.
Foi a apresentação de uma proposta de orçamento com déficit de R$ 31 bilhões a gota d'água para que o Brasil perdesse o grau de investimento na classificação da Standard & Poor's. Outras agências farão o mesmo nos próximos dias ou meses, se o governo não apresentar uma proposta consistente de equilíbrio das contas.
O susto fez Dilma enfim agir, mas não será fácil adotar disciplina fiscal em um ministério acostumado a gastar como se não houvesse amanhã.
Para exigir sacrifícios da população, Dilma terá de mostrar mais do que promessas de cortes. A anunciada redução de ministérios, por exemplo, esbarra na resistência dos aliados e dos companheiros encastelados no poder. Ninguém quer abrir mão de cargos e do status de ministro, mesmo quando comanda uma secretaria de orçamento escasso e capacidade mínima para a execução de políticas públicas.
As dificuldades de Dilma se multiplicam porque nem no próprio partido encontra respaldo para os cortes. Os maiores críticos do ministro Joaquim Levy não estão na oposição - e nem poderiam estar, porque o programa dele é semelhante ao que Aécio Neves adotaria se tivesse sido eleito.
Quem mais resiste aos cortes são os líderes do PT, que lá na origem da Lei de Responsabilidade Fiscal votaram contra. Acham que responsabilidade fiscal é coisa de neoliberal e de submissão ao capital financeiro, ignorando que gastar mais do que se ganha é desastroso na vida privada e tem um custo altíssimo no setor público.