Em uma assembleia tumultuada, com direito a cadeiras e grades jogadas contra o palco no final, o Cpers decidiu suspender a greve dos professores estaduais, iniciada há quase duas semanas no Rio Grande do Sul. Cerca de 3 mil docentes participaram do encontro na tarde desta sexta-feira, no Pepsi On Stage, na zona norte de Porto Alegre, segundo o sindicato. Entre eles, 500 que permaneceram do lado de fora, acompanhando a discussão por um telão, devido à lotação do espaço.
O conselho do Cpers, com mais de cem membros, definiu, ainda pela manhã, uma pauta com oito propostas a serem votadas pelos participantes da assembleia. No entanto, uma confusão iniciada após o resultado da segunda delas, que deliberou pelo fim da paralisação, encerrou o encontro.
Um grupo de professores que defendia a manutenção da greve derrubou grades de proteção, arremessou cadeiras e tentou invadir o palco onde estava a diretoria do sindicato.
VÍDEO - veja como foram os tumultos:
Antes mesmo de se iniciarem as votações, um grupo de oposição à atual diretoria nas cadeiras mais próximas ao palco protestou com megafone e deu as costas para a mesa diretora, que comandava o encontro.
- Não tem história, é greve até a vitória - entoavam os professores.
A decisão de suspender a greve causou ainda mais revolta no grupo, que acusa a direção do sindicato de "manipular a votação", por não ter promovido a contagem numérica de votos - medida que costuma ser adotada em caso de resultado acirrado ou duvidoso.
- Foi uma votação muito equilibrada, ligeiramente superior pela continuidade (da greve). A direção, quando viu que perderia, quis dar por encerrada a discussão. Nós começamos a exigir a contagem dos votos, algo que é absolutamente democrático, mas a direção estava decidida a encerrar a greve - criticou a professora Neiva Lazzarotto.
- Na nossa avaliação, a categoria votou pela continuidade da greve. A direção não respeitou e não quis fazer a contagem, que era o encaminhamento mais correto para não deixar dúvidas. A assembleia encerrou com uma situação que nunca ocorreu na história do Cpers. Mas o que também nunca aconteceu foi uma direção não respeitar o resultado de uma votação - alegou Rejane de Oliveira, ex-presidente do Cpers e membro do grupo opositor à atual direção.
A atual direção do Cpers justificou que a tentativa de agressão impediu que a contagem pudesse ser feita. A presidente do sindicato, Helenir Schürer, lamentou o tumulto, que, segundo ela, foi causado por professores da Região Metropolitana:
- Não é uma realidade do Estado. Tivemos conselho geral e a ampla maioria estava apontando pelo fim da greve. Aqui dentro foi dividido, mas para quem assistiu do lado de fora, viu que a maioria queria o fim da greve - afirmou.
Helenir também destacou que a categoria vai voltar a negociar com o governo, mas adiantou que os professores não irão aceitar o corte do ponto.
- Continuamos em estado de greve. Vamos negociar com o governo os dias parados, mas não pode descontar, senão vamos ter outro atrito novamente - disse.
Com o encerramento precoce da assembleia, as seis propostas do conselho não votadas pela categoria passam a valer. Entre elas está uma nova greve de três dias, em caso de novo parcelamento de salários, de 30 de setembro a 2 de novembro, e o fortalecimento do acampamento de servidores na Praça da Matriz.
As aulas nas escolas estaduais serão retomadas na segunda-feira. No entanto, mesmo com a greve suspensa, haverá paralisação na terça, acompanhando decisão do Movimento Unificado. Aliás, a primeira proposta, sobre manter a unidade com os demais servidores, foi aprovada.
Na manhã desta sexta, servidores da área da segurança pública já haviam decidido encerrar a paralisação. Os serviços à população, no entanto, seguem restritos. A Brigada Militar continua em operação-padrão, a Polícia Civil não fará grandes operações e investigações fora do expediente, e os concursados do Instituto-Geral de Perícias (IGP) prometem não estender o trabalho para colocar em dia as perícias atrasadas.
* Zero Hora