Após ser sabatinado por mais de 10 horas e ter sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), nesta quarta-feira, os senadores votaram pela recondução do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo.
Ele foi indicado pela presidente Dilma Rousseff, após ser o mais votado entre os colegas do Ministério Público em uma lista tríplice. Com a aprovação de 26 votos favoráveis e um contrário do CCJ, a indicação foi para o plenário do Senado. Foram 59 votos a favor e 12 contrários, além de uma abstenção.
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Na sabatina, Janot se deparou com questionamentos dos senadores sobre a condução da Operação Lava-Jato. Aos críticos, assegurou que não agiu com "seletividade" na definição dos nomes investigados e que a lei vale para todos.
- Pau que dá em Chico dá em Francisco - repetiu Janot diversas vezes. - As pessoas me perguntam até onde a investigação vai. Você tem que perguntar a essas pessoas até onde elas foram. Nós não criamos esses fatos. Não temos nenhum preconceito, nenhum preordenamento - afirmou.
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Ele foi enfático ao negar a existência de um "acórdão" com forças políticas para definir quem seriam os políticos investigados no esquema de corrupção na Petrobras. No início do ano, Janot decidiu que não cabe investigação da presidente Dilma Rousseff por atos alheios ao exercício do mandato.
Recentemente, a possibilidade do "acordo" também foi ventilada pela oposição após o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ter ficado de fora das primeiras denúncias encaminhadas pela PGR ao Supremo Tribunal Federal, concomitantemente à aproximação do peemedebista com o governo.
- Há 31 anos fiz a opção pelo Ministério Público. A essa altura da minha vida, não deixaria os trilhos da atuação técnica de Ministério Público para me embrenhar num processo que eu não domino e não conheço, que é o caminho da política - disse Janot.
- Eu sou do Ministério Público, eu penso como Ministério Público, eu ajo como Ministério Público, e esse é o compromisso que assumo. Não há possibilidade de qualquer acórdão - disse Janot.
A grande tensão da sabatina ficou a cargo da participação do senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL). Denunciado por Janot na última semana por suposto recebimento de R$ 26 milhões em propina no esquema da Petrobras, Collor sentou na primeira bancada da CCJ e balbuciou xingamentos ao procurador-geral da República durante as respostas do chefe do Ministério Público. Depois de arguir Janot, Collor deixou a sabatina e o clima no local foi de calmaria.
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Mesmo diante das provocações, nas respostas a Collor, o chefe do Ministério Público se manteve firme e deu respostas técnicas à bateria de questionamentos sobre a sua gestão e comportamentos. Ele, entretanto, aproveitou para dar uma indireta ao ex-presidente, que saiu do cargo após processo de impeachment:
- Não há futuro viável se condescendermos com a corrupção.
Collor havia se credenciado como suplente da Comissão desde a semana passada, numa manobra para participar da sessão de sabatina. Ele chegou a votar, mas sua opinião não foi computada, já que os demais titulares do bloco do qual faz parte decidiram votar. Os senadores Eduardo Amorim (PSC-SE), Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Magno Malta (PR-ES) são os titulares do bloco União e Força, do qual o próprio Collor é líder.
Além de Collor, outros parlamentares investigados por Janot na Operação Lava Jato apareceram para registrar o voto e participar da sabatina, como os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Edison Lobão (PMDB-MA), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Humberto Costa (PT-PE).
* Zero Hora, com agências