O agricultor Romário Costa Montanha, 63 anos, é um dos passageiros do ônibus 1400 da empresa Expresso São Pedro. Na quinta-feira de manhã, ele deixou Santa Maria rumo a Santiago. E, assim como outros passageiros, não ficou satisfeito com a viagem, que também foi feita pelo "Diário". A reportagem acompanhou o trajeto da linha Santa Maria - São Borja, até a cidade de Unistalda, com o objetivo de verificar as condições do ônibus, em função dos últimos problemas registrados com os veículos da empresa.
Desta vez, nenhum incidente atrapalhou o trajeto. No entanto, o atraso na partida e na chegada e as condições precárias do veículo tornaram a viagem exaustiva. Montanha mora em Gana, na África, mas viaja com frequência para visitar os parentes no Brasil. Acostumado a andar de ônibus em diferentes lugares, ele não escondeu a insatisfação.
- Esse é um ônibus muito velho. Não tem conforto. Ando com outras empresas e tem tudo. Esse não tem nem água - afirma o agricultor.
Durante o percurso da viagem, quatro problemas se destacaram:
1) Pontualidade. A saída de Santa Maria estava prevista para as 7h, no entanto, o ônibus saiu do Coração do Rio Grande com 10 minutos de atraso. A previsão de chegada em Unistalda era para as 11h15min, mas o veículo só chegou às 12h05min, quase uma hora após o horário planejado. E os atrasos não são novidade para os usuários. O casal Thayane do Nascimento Meira, 19 anos, e Juliano Chesani, 26, já estão acostumados com a falta de pontualidade. Desde julho de 2014, eles moram em Florianópolis e viajam com frequência para Santiago para visitar a família. Thayane afirma que, em outras ocasiões, a viagem atrasou muito mais.
- Em uma das nossas vindas, o motor do ônibus queimou. Esperamos mais de três horas pela troca. E se fosse só isso, né? Mas os ônibus estão sempre caindo aos pedaços - afirma Thayane.
2) Conforto. O espaço entre os bancos é minúsculo, o que faz com que as pessoas fiquem com os joelhos apertados contra o banco da frente. Além disso, o veículo não tem ar-condicionado, e as janelas são difíceis de abrir. O professor universitário Fernando Hoffmam, 33 anos, viaja todas as quintas-feiras com a empresa. Ele afirma que, em dias de chuva e de muito calor, é ainda pior.
- Quando chove, forma poça no chão e, quando está muito quente, chego pingando em Santiago - diz o professor.
3) Manutenção. Apesar de contar com cinto de segurança na maioria dos bancos, em muitos deles, o equipamento estava danificado. Em pelo menos dois, o engate travou e não abriu. Em outros, não havia a capa de proteção, apenas o interior da trava. Além disso, um dos pneus do veículo estava desgastado.
4) Higiene. A viagem, que é longa, tornou-se mais complicada, pois o banheiro tinha estrutura precária. Além da porta não trancar direito, não havia descarga no vaso, nem água na torneira. O chão do veículo, assim como as cortinas das janelas, estavam empoeirados. Os bancos não tinham capas de proteção nem sacolas de lixo. A diarista Roselaine de Lima, 50 anos, acha que a frota precisa ser renovada.
- Se as estradas são ruins e colocam um ônibus desse, tudo piora. Parece que (a empresa) estão interessados em quantidade, mas não pensam na qualidade. Precisam rever isso - lamenta.
Modalidade comum dispensa exigências
O advogado da empresa Expresso São Pedro, Ildo da Luz, falou sobre os problemas encontrados no ônibus 1400, que fez a linha Santa Maria-São Borja e argumentou que, na modalidade comum, há serviços que não são obrigatórios, entre eles, o veículo ter cinto de segurança, ar-condicionado e banheiro. O advogado diz que, na modalidade comum, as condições são diferentes da linha semi-direta.
- Existe uma desinformação do usuário que quer exigir serviços que, na modalidade comum, não são oferecidos. Inclusive, o preço da tarifa é diferente, por isso, as condições também são. Se a empresa pudesse, com certeza, ofereceria uma linha comum com condições melhores - afirma Luz.
O advogado destaca, ainda, que a empresa procura sempre repor os cintos de segurança estragados, mas que, muitas vezes, o próprio usuário danifica os itens, o que faz com que a empresa não consiga manter o serviço em dia. Luz afirmou, ainda, que, mesmo tendo o banheiro, a empresa não tem obrigação de oferecer o serviço na linha comum.
Sobre o atraso nas linhas, Luz afirma que as condições do trecho são precárias e que isso influencia no tempo e, também nas condições do ônibus, que acabam estragando com mais facilidade:
- Não temos como cumprir o horário se a estrada está ruim e não temos como colocar um ônibus novo se se manter assim, porque não há suspensão e pneu que aguente.
MP de Santiago aguarda perícia em veículos da frota
Os problemas com os ônibus da Expresso São Pedro já motivou uma ação civil pública do Ministério Público (MP) de Santiago para investigar as linhas que passam pela cidade. O promotor de Justiça do município, Diego Prux, afirma que o pedido é que a empresa seja intimada a regularizar os veículos. O MP aguarda a perícia judicial que deve ser feita nos ônibus.
- Queremos melhorias não só mecânicas, mas também de conforto para os passageiros. A ideia é que a perícia seja feita o quanto antes - afirma o promotor.
O advogado da Expresso São Pedro, Ildo da Luz, afirma que, se durante a perícia for constatado que os ônibus não estão em condições de tráfego, os veículos serão retirados de linha.
Sobre o último incidente, que aconteceu no dia 2 de julho, onde o ônibus que fazia a linha Santa Maria - Balneário Camburiú pegou fogo na localidade de Palma, Luz afirmou que a empresa está entrando em contato com os passageiros para fazer todos os ressarcimentos:
- Os usuários foram orientados a fazer um formulário especificando o que perderam. Agora, estamos negociando com os passageiros.
A consultora de relacionamento Paula Chris Abreu Machado, 26 anos, que estava no ônibus, afirmou, na sexta-feira, que já havia recebido um cheque da empresa.
- Eu já recebi, e meu marido ficou para receber na segunda. Como é outro Estado, o cheque pode demorar até 5 dias para entrar na conta - afirma.