Após defender que os movimentos sociais fossem às ruas "entrincheirados, com armas na mão, se tentarem derrubar a presidente" Dilma Rousseff, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, negou que tivesse a intenção de incitar a população a praticar atos violentos e alegou que se tratou de um "mal-entendido" com o uso de metáforas.
A declaração polêmica ocorreu durante o evento "Diálogo com Movimentos Sociais", ocorrido na quinta-feira, em Brasília. Na ocasião, Freitas afirmou que se houver "qualquer tentativa de atentado à democracia, à senhora (Dilma), ou ao presidente Lula, nós seremos um exército que vai enfrentar essa burguesia".
- O que se vende hoje no Brasil é a intolerância, o preconceito de classe contra nós. Somos defensores da unidade nacional, de um projeto nacional. Isso significa ir para as ruas, entrincheirados, com armas na mão, se tentarem derrubar a presidenta Dilma - discursou o sindicalista.
Após a reunião, o presidente da CUT foi procurado para esclarecer o que quis dizer com "pegar em armas". Segundo Vagner Freitas, em nenhum momento, a sua intenção foi a de indicar que a população deveria usar a "força bélica", e sim a de que se promovam atos públicos e greves no caso de atentados à democracia.
De acordo com Freitas, a declaração foi um "mal-entendido", que "obviamente não estava incitando a violência" e que se referia às "armas da democracia e ao debate de ideias", feito pela classe operária.
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- Se sou contra a intolerância da direita que não aceita vitória da presidenta, não seria eu a praticar uma intolerância maior ainda - disse.
No mesmo evento, Dilma optou por um tom mais ameno em seu discurso, defendendo o diálogo e o respeito aos críticos.
- As pessoas que pensam diferente da gente têm de ser respeitadas. Diálogo, diálogo é diferente de pauleira. Diálogo é diálogo, pauleira é pauleira. Então, ninguém pode chamar de diálogo xingar as pessoas. Ninguém pode chamar de diálogo a intolerância. Botar bomba em qualquer lugar não é diálogo. E esse é algo que nós temos de preservar.
Documento em defesa do governo
Às vésperas da manifestação popular pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, os 12 maiores sindicatos do País se uniram na elaboração de um documento que será distribuído nesta sexta-feira para defender a democracia e o crescimento econômico.
Esses sindicatos, que pertencem às seis principais centrais do País, assinam o "Chamado ao diálogo pela democracia, por crescimento econômico, inclusão social e desenvolvimento nacional".
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No documento, os sindicatos citam o "calendário eleitoral", a "estabilidade institucional" e os "fundamentos constitucionais", em uma indicação clara de defesa do governo Dilma Rousseff, cujo mandato termina em 2018, mas é questionado pela oposição, que alega possíveis crimes de responsabilidade fiscal nas contas de 2014, as "pedaladas fiscais". O caso espera análise do Tribunal de Contas da União (TCU), em decisão que poderá impulsionar um pedido de impeachment da presidente no Congresso.
Os 12 sindicatos afirmam que o País precisa voltar a crescer e distribuir renda para que o emprego formal volte a aumentar.
- Tais desafios exigem, das forças vivas da sociedade brasileira, um claro posicionamento em defesa da democracia, do calendário eleitoral, do pleno funcionamento dos Poderes da República, da estabilidade institucional e dos fundamentos constitucionais como condição básica para a rápida e sustentada transição para o crescimento econômico - escrevem os sindicatos.
Os sindicatos citam a necessidade do governo de combater a inflação, reduzir os juros, aumentar os investimentos em infraestrutura e também citam duas pautas próximas daquelas defendidas por empresários, como uma "política cambial que incentive a atividade produtiva" e a "modernização das instituições, das leis e do Estado".
Ao final, os sindicalistas "conclamam os demais segmentos da sociedade civil organizada a restabelecer as pontes para o necessário diálogo visando a construção de compromissos e acordos para fortalecer a democracia, o crescimento econômico e o desenvolvimento social".
Entre as adesões estão os sindicatos dos metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, e dos metalúrgicos de São Paulo (ligado à Força Sindical), além dos Comerciários de São Paulo, ligado à União Geral dos Trabalhadores (UGT). Juntas, CUT, Força e UGT representam mais de 5 mil sindicatos e têm ligações partidárias completamente distintas.
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Enquanto a CUT é ligada ao PT e apoia o governo Dilma, a Força Sindical tem o presidente filiado ao Solidariedade, partido cujo presidente nacional, o deputado Paulinho (SD-SP), é um entusiasta do impeachment. A direção da Força ainda conta com sindicalistas ligados ao PSDB, como o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Antônio Ramalho, que é um dos 12 sindicalistas que assinam a carta.
A Força também conta com participação grande de sindicalistas do PDT, que, por sua vez, faz parte da base aliada do governo Dilma. Já a UGT, cujo presidente é filiado ao PSD e apoia o governo petista, conta com a direção ligada ao PPS, que defende o impeachment.
Estão representados, também, sindicatos da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Nova Central (NCST) e da Central de Sindicatos Brasileiros (CSB). A CTB é ligada ao PCdoB e ao PSB, enquanto a CSB é o braço sindical do PMDB.
* Zero Hora, com agências