A crise financeira que atinge o Estado e que teve seu ápice nos últimos dias com o parcelamento dos salários dos servidores estaduais reflete cada vez mais no andamento de serviços essenciais à população. Na Brigada Militar de Santa Maria, uma das classes mais afetadas, como forma de protesto, os policiais estão apontando, com mais frequência, problemas mecânicos e de documentação nas viaturas, já que, por lei, não podem entrar em greve. Com isso, as viaturas ficam "baixadas", sem poder circular pela cidade.
Conforme o diretor regional da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar, João Corrêa, em Santa Maria, apenas quatro viaturas estariam disponíveis para o serviço: uma do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) e três do 2º Batalhão de Operações Especiais (BOE).
- As viaturas do BOE são unidades de apoio, assim como estão em Santa Maria, podem estar em qualquer outra cidade. Com os policiais a pé na rua, temos uma falsa sensação de segurança. Empurramos com a barriga algumas coisas e, hoje, estamos mostrando para o governo que tem muita coisa errada - desabafa Corrêa.
O comandante do 1ºRPMon, tenente-coronel Gedeon Pinto da Silva, admite que as baixas de viaturas estão ocorrendo mais do que o habitual e que, atualmente, há quatro viaturas disponíveis no 1º RPMon. A recém-criada Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) é um dos setores mais atingidos, já que as suas seis motocicletas estão fora de combate.
Outras 15 viaturas também estão sem rodar, seja por problemas mecânicos ou de documentação. Com a situação, os policiais estão saindo a pé para fazer o policiamento. Os cavalos também têm saído com maior frequência.
- Já teve situações de que tivemos só uma viatura, mas hoje temos quatro rodando. Se, até o final do turno, elas continuarão rodando, não tenho como dizer. As que baixaram não estavam em condições, e é padrão elas não serem deslocadas - explica Gedeon.
No 2º BOE, a situação seria semelhante, entretanto, o comandante do batalhão, major Cleberson Bastianello, preferiu não detalhar números. Conforme ele, as baixas de viaturas estão dentro da normalidade.
- O BOE está em dia. Temos algumas viaturas baixadas, sim, mas é de praxe. Varia muito, há turnos que entram seis (viaturas), no outro, sete, no outro, 10. E, na medida do possível, ajudamos o 1º RPMon, não com viaturas, mas fazendo o policiamento - afirma Bastianello.
Na cerimônia de comemoração aos 15 anos do 2º BOE, na sexta-feira, foram anunciadas e apresentadas mais três viaturas para o batalhão.
Com o número reduzidos de viaturas, o tempo de atendimento para uma ocorrência fica comprometido. Na última quarta-feira, populares detiveram um adolescente que cometeu um assalto e precisaram esperar cerca de uma hora até a chegada da BM - na sexta-feira, houve um caso semelhante, mas com menor tempo de espera pela viatura, cerca de alguns minutos.
Coronel diz que preocupação é com os policiais
O comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva Central (CRPO), Coronel Worney Mendonça, reconhece que houve redução no número de viaturas, mas que a situação varia de acordo com cada turno de serviço. Para o comandante, a principal preocupação é com o estado psicológico dos policiais para que eles possam ir para a rua.
- A nossa atividade já é de stress, e a nossa preocupação é acompanhar como o policial está psicologicamente. Não queremos colocar ninguém em risco. O policiamento ostensivo da Brigada está sendo planejado normalmente, estamos operando dentro do mais próximo ao normal possível - afirma.
O coronel diz não saber se o fato de os policiais estarem atestando mais a falta de condições das viaturas está vinculado aos protestos dos servidores estaduais pelo parcelamento dos salários. Worney afirma também que nenhum policial sai para a rua sem os equipamentos estarem totalmente regularizados.