Eleito pela revista Foreign Policy como primeiro de uma lista dos cem maiores pensadores globais no ano crucial de 2009, o ex-presidente do Federal Reserve (banco central americano) Ben Bernanke tem um recado aos líderes da zona do euro. Em artigo publicado na sexta-feira no site do think tank Brookings Institute, o homem que segurou o leme da maior economia do mundo no início da Grande Recessão faz uma pergunta direta aos "realistas" - para tomá-los pelo seu valor de face - que conduzem as negociações com a Grécia. "Agora é um bom momento para perguntar: a Europa está cumprindo sua parte da barganha? Especificamente, a liderança da zona do euro está apresentando a ampla recuperação econômica necessária para dar a países pressionados como a Grécia uma chance razoável de cumprir seus objetivos de crescimento, emprego e fiscais?".
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Qualquer motorista de táxi de Lisboa ou cabeleireira de Milão teria a resposta na ponta da língua, mas Bernanke é um homem educado: para ele, a performance do clube do euro é "profundamente decepcionante". O buraco da bala, aponta o ex-presidente do Fed, está na casa de máquinas da economia europeia, a Alemanha. O país, diz Bernanke, "escolheu efetivamente se apoiar na demanda externa mais do que na interna para assegurar pleno emprego doméstico, como mostrado em seu extraordinariamente grande e persistente superávit comercial, hoje quase 7,5% do PIB". O resultado é que qualquer ajuste da economia europeia depende de países como Grécia, Portugal, Espanha e outros primos pobres, que, no quadro da moeda única, só podem aspirar a participar do grande jogo se depreciarem continuamente os salários.
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Mas, em meio à torrente de aplausos a Angela Merkel e Wolfgang Schäuble no Bundestag, quem dará ouvidos a um vendedor de ilusões como Bernanke?
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