A vitória do premier grego, Alexis Tsipras, no plebiscito de domingo foi assentada sobre um tripé. O primeiro e mais sólido ponto de apoio da posição de seu governo foi a recusa a endossar mais uma volta no parafuso dos cortes de gastos públicos exigidos pelos credores. Nesse ponto, os gregos se assemelham ao paciente terminal que prefere a doença a um tratamento doloroso e de eficácia mais do que discutível.
Mas Tsipras não teria sido o grande vitorioso de três dias atrás sem outros dois importantes argumentos. O primeiro foi a afirmação de que, com a vitória do não, seria possível arrancar dos credores uma proposta de renegociação da dívida - o premier chegou a falar numa redução de 30% do montante de 320 bilhões de euros.
O segundo foi a garantia de que, em qualquer circunstância, a Grécia não abandonaria a zona do euro. Sem a rejeição ao pacote de cortes, Tsipras não teria alinhavado o triunfo de domingo. Sem a aposta na renegociação e as juras de fidelidade ao euro, dificilmente teria saído vitorioso das urnas.
O problema é que o tripé do premier grego não se sustenta. De parte dos credores, não existe a menor intenção de ceder às reivindicações gregas. Os europoderosos fizeram o possível para dobrar o eleitorado helênico por meio do catastrofismo e da ameaça. Agora, têm a seu favor a escassez de euros.
Analistas pró-Berlim haviam apostado que o volume morto seria atingido antes do plebiscito. Erraram, mas por estreita margem. No atual jogo de forças, toda a pressão está concentrada sobre Atenas. E é irônico que, numa situação tão dramática, a esquerda europeia tradicional só tenha descruzado os braços para - a exemplo do Partido Socialdemocrata Alemão (SPD), parceiro de Angela Merkel no governo - ajudar a apertar a garganta da Grécia.
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