Riacho e rua se tornaram uma coisa só em Alvorada: um curso dágua cujo nível não para de subir nesta segunda-feira. O Arroio Feijó, no limite entre o município e Porto Alegre, transbordou na madrugada, invadiu casas e bloqueou o acesso à Vila Americana pelo Porto Seco.
Mil residências haviam sido afetadas pelos alagamentos em Alvorada até domingo - hoje, o número já passa de 1,5 mil. Segundo a prefeitura, 6 mil pessoas foram atingidas pelos efeitos da enxurrada e estima-se que mais de 2,4 mil tenham deixado as suas casas.
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Com água acima dos joelhos e chuva sobre a cabeça, moradores utilizavam botes infláveis, pranchas de surfe e isopores para resgatar os pertences e impedir que a água os estragasse nesta manhã. Caminhões de frete particulares auxiliavam na retirada de móveis e eletrodomésticos, e uma equipe da Defesa Civil também realizava mudanças (foram 200 desde domingo).
- Nunca tinha visto uma enchente igual a essa. Levantamos todos os móveis, tivemos que tirar os cachorros do pátio e agora vamos para a casa de parentes. E sabendo que não tem previsão de volta - conta a auxiliar de contabilidade Kelly Cristina da Silva, 30 anos.
Foto: Fernando Gomes, Agência RBS
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Entre os moradores da Vila Americana, uma impressão é unanimidade: esta é a pior enxurrada de que se tem recordação no bairro.
- Desde 1983, não dava uma enchente assim - comenta um homem com os vizinhos.
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- Encheu o arroio mais do que em 1995 - diz outro.
Apesar do avanço de água parecer o mais grave das últimas décadas, alagamentos são um fenômeno com o qual a comunidade convive praticamente todo ano na área.
Foto: Fernando Gomes, Agência RBS
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- As pessoas jogam lixo, o valão não é dragado todo o ano. Aí não tem o que aguente. Não dá para trabalhar e adquirir as coisas porque a água leva tudo - diz o lavador de carros Wagner Barcelos, 32 anos.
Ao lado da esposa Rosemary, Wagner foi despertado ainda na madrugada pelo temporal e começou a levantar, como pode, o que tinha de mais valor. Essa é a quarta enchente que atinge a família que perdeu a esperança em resgatar móveis e roupas - a água chegou a altura de um metro dentro de casa, e nem caminhões conseguem mais passar pela rua onde o casal mora.
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O mesmo trabalho teve Robson dos Santos, 28 anos: de pé desde as 4h, o pizzaiolo usou tábuas e tijolos para que eletrodomésticos escapassem da enchente. O único banheiro da casa está interditado: a altura da água só deixa à mostra a tampa da privada. Os cinco filhos, de idades entre oito anos e oito meses, foram levados para a casa da sogra. Mas os três vira-latas da família permaneceram sobre um amontoado de tijolos - única estrutura aparente no pátio inundado da residência.
Conforme a prefeitura, a última drenagem no Arroio Feijó foi feita no ano passado - a escavadeira hidráulica utilizada para o serviço teria sido retirada do município pelo governo do Estado . Para a tarde, o Executivo municipal tem expectativa de se reunir com o governador José Ivo Sartori para tratar sobre a drenagem do riacho. Zero Hora busca uma posição do Piratini.
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Débora Ely
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